Passeio de observação de baleias vê pilha flutuante de lixo — com alguém preso dentro
Por Beatriz Menezes em Mundo AnimalO que era para ser um dia tranquilo de contemplação da vida marinha acabou se transformando em uma missão de resgate inesperada e comovente nas águas cristalinas do Sri Lanka.
Durante um passeio organizado pela empresa Insider Divers, especializada em turismo de mergulho e observação de animais marinhos, uma cena curiosa chamou a atenção do grupo liderado por Simon Lorenz.
Enquanto os participantes procuravam por baleias, o guia notou algo peculiar boiando ao longe. Tratava-se de uma grande pilha de lixo flutuante.
“Havia uma concha enorme lá dentro”, contou o guia em um vídeo para o site The Dodo.
Apesar da aparência comum no atual cenário de poluição oceânica, havia algo diferente naquela massa de detritos.
Como de costume, Lorenz pediu que o barco parasse para investigar, já que estruturas como essas frequentemente atraem peixes e até grandes predadores.
Mas dessa vez, algo se mexia entre os restos de plástico e cordas velhas. Inicialmente, o grupo pensou se tratar de uma carcaça ou algum objeto grande, mas ao se aproximarem, perceberam que se tratava de um ser vivo, preso e aparentemente exausto.
Foi aí que o mistério se revelou.
Uma concha arredondada emergia parcialmente da água, e pequenas nadadeiras agitavam a superfície em desespero silencioso.
Lorenz logo identificou o animal como uma tartaruga-oliva, uma espécie ameaçada que habita águas tropicais.
Ela estava completamente enredada em uma rede de pesca descartada.
Esse tipo de resíduo, conhecido como rede fantasma, é um dos grandes vilões dos mares, colocando milhares de animais em risco todos os anos.
Comovidos pela cena, o grupo decidiu agir.
Um dos guias pulou imediatamente na água com uma faca em mãos, tentando cortar os fios que se enrolavam em torno do casco e das nadadeiras da tartaruga.
Mesmo presa, ela se manteve incrivelmente calma, como se compreendesse que aqueles humanos estavam ali para salvá-la.
O trabalho foi mais difícil do que parecia.
As cordas estavam firmemente entrelaçadas e exigiram quase 40 minutos de esforço coletivo. Alguns turistas decidiram entrar na água para ajudar a segurar o animal enquanto o guia trabalhava.
Quando finalmente o último fio foi cortado, a tartaruga mergulhou com força rumo à liberdade.
O alívio foi coletivo.
O animal nadava novamente, livre, graças à solidariedade de pessoas que, naquele dia, foram muito além da simples observação da natureza.
Para Lorenz, o momento reforça a importância de ações conscientes no oceano e a urgência de combater a poluição marinha.
Assista:
Saiba mais sobre a tartaruga-oliva
Segundo o Projeto Tamar a tartaruga-oliva, de nome científico Lepidochelys olivacea, é uma espécie marinha classificada como vulnerável tanto internacionalmente pela IUCN quanto no Brasil pelo Ministério do Meio Ambiente.
Ela habita mares tropicais e subtropicais, sendo encontrada nos oceanos Pacífico, Índico e em áreas do Atlântico, como a América do Sul, América Central e costa oeste da África.
Costuma viver em alto-mar, mas também aparece em regiões costeiras, principalmente durante o período reprodutivo. Mede até 72 centímetros de comprimento de carapaça e pesa cerca de 50 quilos.
Sua carapaça possui coloração acinzentada nos juvenis e verde-acinzentada nos adultos, com seis ou mais pares de placas laterais.
É uma espécie carnívora, que se alimenta de moluscos, crustáceos, águas-vivas, peixes, ovos de peixe e eventualmente algas.
No Brasil, são registrados cerca de 10.500 ninhos por temporada, com destaque para o litoral de Sergipe, onde há maior concentração de desovas.
A espécie é conhecida por participar de eventos de arribada, quando milhares de fêmeas sobem simultaneamente às praias para desovar, fenômeno observado em poucas regiões do mundo.