Protetora resgata cachorrinhas presas em correntes apertadas e se emociona ao ver alegria delas em liberdade
As duas apresentavam cortes e cicatrizes causados pelas amarras e pelas péssimas condições em que eram mantidas.
Por Beatriz Menezes em Proteção AnimalNo dia 24 de julho, a protetora de animais Cleviane Moreira viveu uma das experiências mais marcantes de sua trajetória na causa animal.
Em Colorado do Oeste, no interior de Rondônia, ela recebeu uma denúncia anônima sobre cachorros em situação de maus-tratos e decidiu agir imediatamente.
“Eu moro na cidade de Colorado do Oeste, aqui em Rondônia, e sempre gostei de animais. Sempre fiz o que pude por eles, mas nunca vi muita divulgação. Tudo começou a mudar quando passei a compartilhar minha rotina nas redes sociais”, contou Cleviane em entrevista exclusiva ao Amo Meu Pet.
A denúncia chegou por vídeo. Nele, uma cadelinha aparecia debilitada, com marcas no pescoço. Cleviane buscou ajuda da amiga Graciane Carriza, do médico veterinário José da ProntoDog e acionou a polícia para acompanhar a ocorrência.
“Eu recebi essa denúncia de uma pessoa que eu não conheço. Saí para procurar a casa indicada e, quando bati palmas, ninguém atendeu. Aí a casa não tinha muro, nem cerca, nem nada, eu dei uma olhada e quando vi a cachorrinha lá imediatamente eu chamei a polícia, porque mesmo a gente sendo da causa animal, a gente não tem o direito de invadir a casa de ninguém, a não ser que a gente esteja com o reforço, com a viatura lá. Quando eu vi, eu saí correndo primeiramente, porque eu comecei a tremer, comecei a passar muito mal, de ver ela naquele estado e toda amarrada.”, relembra.
Ao entrarem com apoio policial, encontraram duas cadelas presas pelo pescoço. Uma delas estava amarrada com faixas tão apertadas que haviam causado um corte profundo, exigindo sutura e medicamentos.
A outra, presa a uma corrente trançada em arame, apresentava marcas antigas de maus-tratos.
“Quando conseguimos soltar a branquinha, mesmo ferida, parecia que ela sentiu um alívio imediato. Foi emocionante ver a alegria dela ao ser libertada. Eu chorei muito naquele momento”, desabafou a protetora.
Viralização e comoção
O resgate foi registrado em vídeo e publicado nas redes sociais. Em poucos dias, ultrapassou 1,7 milhão de visualizações, 116 mil curtidas e milhares de comentários.
“Eu trabalho com redes sociais e fiquei muito feliz com o apoio das pessoas. Esse vídeo viralizou e mostrou até onde podem chegar os maus-tratos contra animais. Isso gera conscientização”, destacou.
Nos comentários, internautas expressaram indignação e apoio:
“Os olhinhos delas parecem agradecer pelo resgate” e “Ainda bem que agora estão em boas mãos” foram algumas das mensagens mais compartilhadas.
Confira o vídeo:
Recuperação das cachorrinhas
Após o resgate, as duas cadelas receberam atendimento na clínica veterinária Prontodog.
A caramelo, antes acorrentada, logo se mostrou brincalhona e conquistou os cuidadores.
A branca, que precisou de pontos no pescoço, segue em recuperação, mas já demonstra comportamento dócil e confiança.
“Hoje elas vivem soltas no meu sítio. Aqui já tenho outros animais resgatados, e enquanto não encontramos um lar responsável, elas ficam comigo. Nós não temos canil ou centro de zoonoses na cidade, então o sítio acaba sendo um espaço de acolhimento”, explicou Cleviane.
A lei e a investigação
Apesar da gravidade, a tutora dos cães não estava presente durante o resgate, o que impediu a prisão em flagrante. O caso foi registrado em boletim de ocorrência e encaminhado à promotoria.
Cleviane revelou que a suspeita já teria histórico de maus-tratos. A legislação brasileira prevê punição severa. A Lei Sansão (nº 14.064/2020) estabelece pena de dois a cinco anos de reclusão, multa e proibição de guarda para quem maltratar cães e gatos.
Bicudo, o papagaio guardião
Na propriedade de Cleviane, os resgates dividem espaço com o papagaio Bicudo, que se tornou personagem querido nas redes sociais.
“A minha vida começou a ser mostrada na internet, quando eu ajudei o papagaio Bicudo a voltar à natureza e ele não quis voltar. Ele acabou ficando comigo, mas ele é livre na natureza. Chegou para mim bem doente e tratei dele, um pássaro que nunca foi cortado as asas, sempre foi criado na natureza para ele voltar a viver na natureza, mas ele nunca quis ir. E aí ele está aqui comigo. Isso já tem quatro anos que ele tem, mas que eu cuido dos animais já tem alguns anos”.
Apoio e desafios
A rotina de resgates não é fácil. Cleviane conta com o apoio da família, de amigos e de doações.
“Já pedi apoio para construirmos um canil municipal em Colorado do Oeste, que seria um espaço de passagem para animais vítimas de maus-tratos. Infelizmente, ainda não temos essa estrutura.”, disse.
Ela destaca que o objetivo não é abrigar permanentemente, mas oferecer tratamento e segurança até a adoção responsável.
“A intenção não é sair recolhendo animais de rua e enchendo um canil. O objetivo é ter um espaço onde possamos levar aqueles que sofrem maus-tratos, medicar, cuidar e mantê-los até encontrarmos um dono responsável. Também queremos realizar feiras de adoção para mostrar que não é preciso comprar um cachorro, pois os SRDs, ou vira-latinhas, também merecem amor e carinho.”
Hoje, as duas cadelas resgatadas vivem dias de liberdade e afeto. Abanam o rabo em sinal de felicidade e mostram que, apesar da dor, sempre há chance de recomeço.