Gravemente desnutrido, cão chihuahua passou meses acorrentado a trampolim até alguém notar sua presença
Por Larissa Soares em Proteção Animal
Durante meses, ele viveu preso a uma corda elástica, acorrentado a um trampolim velho, com o corpo coberto de carrapatos e a alma consumida pelo frio da solidão.
Era assim que Chico, um pequeno chihuahua de três anos, conhecia o mundo: o mesmo pedaço de terra, a mesma sombra, a mesma ausência.
Mas um dia, o destino enviou ajuda.
Foi em 2024, quando Jake Roos, trabalhador de campo da organização People for the Ethical Treatment of Animals (PETA), encontrou o cãozinho pela primeira vez.
“Colocamos uma coleira adequada, demos comida, água e remédio contra pulgas e carrapatos”, contou Roos em entrevista à People.
Os socorristas tentaram convencer a família a deixá-lo viver dentro de casa ou permitir que fosse levado pela equipe, mas ouviram um não. Pouco depois, os tutores se mudaram, e ninguém sabia o que havia acontecido com Chico.
O reencontro
Cinco meses se passaram até que o destino voltasse a agir. Roos e sua equipe estavam distribuindo comida e medicamentos para cães acorrentados em um parque de trailers na zona rural da Carolina do Norte (EUA) quando, de repente, o passado voltou em forma de latido.
“Vi o Chico acorrentado a um velho trampolim com apenas 60 centímetros de corda emaranhada”, relembra Roos. “A maioria dos trailers estava abandonada, e dois outros cães próximos mostravam comportamento agressivo, resultado da frustração de ficarem constantemente sozinhos.”
Chico, por sua vez, estava exausto. “Ele estava gravemente desnutrido, sem comida ou água disponíveis. Era uma casca de si mesmo, com costelas e ossos do quadril projetando-se.”
Naquele momento, o pequeno cão que um dia fora ignorado por todos se tornava o centro da missão.
Roos conseguiu convencer o dono a entregá-lo. “Tudo o que Chico fez foi se enrolar e dormir”, contou. Era como se, finalmente, pudesse descansar de uma vida inteira de medo.
Nova vida
Depois do resgate, Chico recebeu vacinas e foi levado para um lar temporário. Mas a liberdade, para quem nunca a teve, também assusta. Ele tremia o tempo todo e se encolhia diante de qualquer aproximação. A fome havia passado, mas a desconfiança ainda morava ali.
Com paciência, o pai adotivo começou a conquistar sua confiança.
Aos poucos, Chico se aproximou, aceitou carinho e até encontrou um novo amigo: um pequeno donut de brinquedo que fazia barulho. Era o primeiro objeto do qual ele não queria se separar.
Em setembro, meses após o resgate, Chico conheceu sua nova tutora, uma mulher aposentada que havia perdido seu antigo companheiro peludo há alguns anos.
“Agora ele adora brincar com seus brinquedos, e sua parte favorita do dia é a hora das refeições. Ele também adora ser colocado na cama à noite”, disse Roos à People.
Hoje, Chico dorme em cobertores quentinhos, tem suéteres para o inverno e companhia constante. O chão frio e as correntes ficaram para trás.
“O tutor de Chico o trata como o verdadeiro membro da família que ele é, e sua vida não poderia ser mais diferente do que era”, completou Roos.
Por que cães não devem viver ao ar livre
Segundo a Humane Society of Broward County, cães mantidos ao ar livre enfrentam sérios riscos físicos e emocionais.
“Os cães foram domesticados há mais de dez mil anos para conviver com humanos. Eles anseiam pela nossa companhia e precisam dela”, explica a entidade.
O isolamento prolongado causa solidão, ansiedade e tédio, sentimentos que frequentemente se transformam em comportamentos destrutivos, como cavar, latir excessivamente ou morder.
E quando são acorrentados, os efeitos são ainda piores.
“Uma das coisas mais cruéis que você pode fazer é prender um cachorro por longos períodos. Eles sofrem de privação psicológica, o que resulta em apatia, depressão e agressividade”, alerta a instituição.
Além disso, cães expostos ao calor ou frio extremo correm risco de desidratação, queimaduras, hipotermia e até morte.
“Se você está com calor, imagine o seu cão”, destaca a organização. “A temperatura corporal deles é mais alta, e eles não transpiram como nós.”
O ideal é que os cães vivam dentro de casa, próximos à família, o que não apenas os protege, mas fortalece o vínculo de confiança e amor.
“Se o seu cão o protege, é porque tem um vínculo com você. Isso não acontece quando ele é deixado sozinho no quintal.”
Larissa é jornalista e escreve para o Amo Meu Pet desde 2023. Mora no Rio Grande do Sul, tem hobbies intermináveis e acha que todos os animais são fofos e abraçáveis. Ela se formou em Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e é “mãe” de duas gatas.