Cão caramelo que foi deixado para definhar acorrentado em casinha encontra um 'anjo' na hora que mais precisava
Por Larissa Soares em Proteção AnimalPor anos, Bartô acreditou que a vida tinha desistido dele. Acorrentado a uma casinha minúscula, sem direito a andar, brincar ou sequer ver o mundo além das correntes, ele passou os dias esperando por algo que nunca vinha: amor.
Sem água, sem comida, sem carinho, o caramelo já não tinha mais forças. Até que, no momento em que tudo parecia perdido, um anjo apareceu.
No dia 27 de agosto, em Major Gercino, Santa Catarina, a protetora de animais Bianca Machado recebeu um pedido de socorro. Ao lado da Polícia Militar, ela foi até o local e se deparou com uma das cenas mais tristes que já presenciou.
Bartô estava dentro da casinha, encolhido, coberto de sujeira e com os ossos à mostra. Tremia sem parar, e o olhar parecia misturar medo e pedido de ajuda.
A primeira coisa que Bianca fez foi tirar as correntes. No lugar, colocou a guia para levá-lo embora.
Mas quando ele saiu, mal conseguia ficar de pé. O mais triste é que, mesmo livre, ele tentou voltar para a casinha.
A protetora o colocou no carro e o levou direto para a clínica veterinária BioVet Brusque, onde ele foi internado com urgência.
Bartô estava desnutrido, anêmico e com múltiplas inflamações internas. Mesmo assim, tinha uma vontade imensa de viver.
“Ele passou a vida inteira aprisionado, fazendo xixi nele mesmo, sem água, sem comida, invisível para todos. E ainda assim é um cão dócil, amoroso, que só quer um colo”, escreveu Bianca na legenda da publicação do resgate.
Nas redes, o caso comoveu milhares de pessoas. “Como alguém é capaz disso?”, comentou uma internauta. “Anjos salvando anjos!”, disse outra.
Uma voz pela causa
No dia seguinte ao resgate, Bianca gravou um desabafo emocionado. Para ela, o sofrimento de Bartô é o retrato de um problema muito maior: a falta de fiscalização e de políticas públicas voltadas à causa animal.
“Não tem um fiscal do meio ambiente, não existe fiscalização para nada. A polícia faz o que pode, mas é obrigação dos municípios proteger os animais. Está na Constituição”, explicou.
A protetora lembrou que o artigo 225 da Constituição Federal estabelece que é dever do Poder Público “defender a fauna e proibir práticas cruéis”. Além disso, o artigo 23 reforça que União, Estados e Municípios compartilham essa responsabilidade.
“Fazer política pública para os animais não é favor, é obrigação legal”, destacou Bianca. “Enquanto a gente não cobrar isso das pessoas certas, vamos continuar enxugando gelo.”
A lenta recuperação de um guerreiro
Nos dias seguintes, Bartô passou por uma bateria de exames. O ultrassom revelou inflamações no fígado, intestino, pâncreas e próstata, além de cálculos na vesícula. Mesmo assim, o caramelo resistiu bravamente.
Durante as primeiras semanas, ele precisou de internação 24 horas por dia. Teve altos e baixos, mas não desistiu. Com alimentação adequada, cuidados diários e muito amor, o cão que antes mal se sustentava em pé começou a se reerguer.
Foram semanas de internação intensa, e cada avanço era uma vitória. E, no fim, ele conseguiu.
Em 14 de outubro, pouco mais de um mês após o resgate, a protetora compartilhou um vídeo emocionante. Bartô corria, abanava o rabo e parecia outro cão.
“Bartô está disponível para adoção responsável, longe de correntes, com um espaço para brincar e ser feliz. Viveu por mais de sete anos acorrentado, isolado do mundo. Agora só quer viver o que lhe foi negado por tanto tempo”, anunciou.
Segundo Bianca, ele precisa ser filho único ou conviver com outro animal mediante adaptação, mas tem um coração enorme e uma vontade imensa de amar.
Saiba mais no Instagram da protetora: (@biancamaachado).
Maus-tratos é crime
Casos como o de Bartô infelizmente ainda são comuns, mas é importante lembrar que maus-tratos contra animais é crime no Brasil. A Lei Federal nº 9.605/98, conhecida como Lei de Crimes Ambientais, prevê pena de reclusão de dois a cinco anos, multa e proibição da guarda do animal.
Considera-se maus-tratos qualquer ação ou omissão que cause sofrimento, dor, abandono, fome, ferimentos ou privação de liberdade. Manter um cão acorrentado por tempo indeterminado, sem acesso a abrigo, comida ou água, é uma forma de crueldade e pode — e deve — ser denunciada.
Denúncias podem ser feitas para:
- Polícia Militar (190) — especialmente em flagrantes;
- Delegacia de Polícia Civil mais próxima, registrando boletim de ocorrência;
- Ouvidoria ou Secretaria de Meio Ambiente do município;
- Ministério Público Estadual.
Larissa é jornalista e escreve para o Amo Meu Pet desde 2023. Mora no Rio Grande do Sul, tem hobbies intermináveis e acha que todos os animais são fofos e abraçáveis. Ela se formou em Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e é “mãe” de duas gatas.
