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Um ano e meio após sobreviver ilhado em botijões, cão caramelo Wilson encara o maior desafio da sua vida

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em Proteção Animal

Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul viveu uma das maiores tragédias ambientais de sua história. As enchentes atingiram centenas de cidades e deixaram um rastro de destruição, afetando milhares de famílias humanas e animais.

Entre os afetados está Wilson, um vira-lata caramelo que ficou ilhado, tentando se equilibrar sobre uma pilha de botijões de gás, à espera de socorro.

O resgate aconteceu quando o navio onde trabalhava o marinheiro Marcelo Gonzales Otoya atracou no porto de Porto Alegre.

Ao avistar o cão em apuros, Marcelo não pensou duas vezes. Ele mergulhou nas águas geladas e nadou até ele.

“Mais um sobrevivente da enchente. Ele foi encontrado milagrosamente enquanto estávamos atracados”. Marcelo não pensou duas vezes e foi nadando resgatar o Wilson, que se equilibrava desesperado em uma cerca”, relatou a ONG SOS Animais da Ilha em uma publicação no Instagram.

Wilson foi acolhido e tratado com carinho pela tripulação do navio por alguns dias, mas como a embarcação logo seguiria viagem para outro país, Marcelo pediu ajuda à ONG para garantir que o cachorro tivesse um destino seguro.

“Ele recebeu atendimento veterinário, foi castrado, vacinado e está em um lar temporário aguardando por uma família amorosa e responsável, que nunca o deixe para trás!”, completou a equipe.

Dócil, esperto e com aquele jeitinho inconfundível de “cachorro caramelo brasileiro”, Wilson parecia ter todos os ingredientes para ser adotado rapidamente.

Mas um ano depois, ele ainda espera.

O sobrevivente que ainda não encontrou um final feliz

O adestrador Thales Valente, do projeto Saber Pet, publicou recentemente um vídeo relembrando a história de Wilson.

As imagens mostram o cão alegre, saudável e cheio de vida, mas ainda sem uma família definitiva.

“Uma vida quase perdida pelas enchentes. Resgatado nos últimos instantes, alimentado e tratado, mas ainda com futuro incerto”, escreveu Thales.

“Wilson é um sobrevivente que pode encontrar um lar amoroso e ter a vida feliz e brincalhona que tanto merece — ou passar a vida toda atrás das grades à espera de uma adoção improvável. O futuro dele depende de todos nós.”

Na legenda, ele reforça o apelo:

“O legítimo caramelo! Muitas pessoas se encantaram com o caramelo do filme, mas infelizmente poucas pessoas adotam um. Ele é vacinado, castrado, vermifugado e está atualmente em Canoas (RS).”

Para adotar o Wilson, basta entrar em contato com o perfil @sosanimaisdailha no Instagram e preencher o formulário de adoção responsável.

Por que é tão difícil adotar um cão sem raça definida?

O caso de Wilson é comovente, mas infelizmente não é exceção. De acordo com dados apresentados pela ANDA (Agência de Notícias de Direitos Animais), o Brasil tem cerca de 30 milhões de cães e gatos sem lar.

A maioria é formada por animais sem raça definida, que enfrentam um cenário de invisibilidade nos abrigos.

Pesquisas mostram que 51% das famílias brasileiras preferem cães de raça, com o shih-tzu liderando as escolhas.

Já a adoção em abrigos é a opção menos comum. Essa tendência cria uma espécie de “hierarquia canina” em que os vira-latas, apesar de representarem a maioria dos animais abandonados, são os menos procurados.

O preconceito com a aparência, a idade e até a cor da pelagem ainda pesa. O caramelo, por exemplo, é quase um símbolo nacional, presente em memes, campanhas e até filme. Mas essa popularidade não se reflete nas adoções.

Um estudo apresentado pela ANDA apontou que cães sem raça têm 90% menos chances de serem adotados em comparação aos de raça pura, pela velha ideia de que o SRD é um “bicho de segunda categoria”.

“É um estigma que precisa acabar. Esses cães são inteligentes, fiéis e se adaptam facilmente. Adotar um vira-lata é abrir espaço para uma das conexões mais sinceras que existem”, explica Juliana Camargo, presidente do Instituto Ampara Animal.

A adoção é um ato de amor, mas também de compromisso. Segundo a ANDA, é essencial que as famílias escolham seus futuros companheiros com base na compatibilidade de estilo de vida, e não apenas pela aparência.

Os dados mostram que 63% das famílias que adotam relatam estar “muito satisfeitas” com a convivência, e metade delas destaca o amor incondicional como o maior benefício.

Em outras palavras, quando a escolha é feita com o coração e responsabilidade, todos saem ganhando.

Larissa é jornalista e escreve para o Amo Meu Pet desde 2023. Mora no Rio Grande do Sul, tem hobbies intermináveis e acha que todos os animais são fofos e abraçáveis. Ela se formou em Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e é “mãe” de duas gatas.