Voluntários encontram “cães azuis” em Chernobyl, mas descobrem que o motivo é bem diferente do que parece
Por Larissa Soares em CãesNas últimas semanas, imagens dos “cães azuis” de Chernobyl têm tomado conta da internet — e, com elas, teorias que vão desde mutações radioativas até efeitos tardios do desastre nuclear de 1986.
Mas a verdade é bem menos apocalíptica (e até um pouco engraçada): segundo especialistas do programa Dogs of Chernobyl, a coloração vibrante não tem nenhuma ligação com radiação.
A explicação, na verdade, é “um pouco cômica”, como descrevem os pesquisadores.
Um encontro inesperado com três cães azulados
No início de outubro de 2025, a equipe do Dogs of Chernobyl realizava mais uma campanha na Zona de Exclusão de Chernobyl (ZEC), onde eles capturam, esterilizam, vacinam e devolvem à natureza os animais que vivem ali.
Desde 2017, o programa já ajudou mais de mil cães — e até alguns gatos — descendentes dos animais abandonados após o desastre nuclear.
Mas, naquele dia, algo fugiu completamente do padrão: três cães surgiram cobertos por um azul intenso.
“Encontramos três cães quase completamente cobertos por uma substância azul”, contou a veterinária Jennifer Betz, diretora médica do programa, ao Discover Magazine.
Eles eram extremamente ariscos, fugindo sempre que a equipe tentava capturá-los. Sem dardos tranquilizantes disponíveis, restou observar — e foi assim que uma pista surgiu.
Seguindo o caminho geolocalizado dos animais, os pesquisadores encontraram um banheiro químico antigo na região.
Sim: o famoso azul era, ao que tudo indica, corante de banheiro químico.
“Cachorro sendo cachorro”
Banheiros químicos usam um líquido azul desodorizante, e tudo indica que os cães simplesmente se esfregaram nele — como muitos cães fazem com cheiros "interessantes" durante um passeio.
Betz afirma que a equipe ainda quer capturá-los para confirmar a origem exata, mas as evidências apontam fortemente para isso.
E, para quem se preocupou com a saúde dos animais, a veterinária tranquiliza: o líquido, embora chamativo, não parece representar risco sério — a menos que os cães resolvessem lamber a substância, o que não foi observado.
Normalmente, cães da região aparecem com marcas coloridas porque a equipe usa giz temporário para identificar animais esterilizados. Mas desta vez o azul tomou o corpo inteiro.
Os cães seguem soltos, ativos e saudáveis na região — e, quando forem capturados, passarão por exames que devem esclarecer o caso de vez.
E quanto às mutações genéticas? Os cães realmente evoluíram?
A questão genética é mais complexa do que simplesmente "sim" ou "não".
Estudos mostram que os cães da ZEC são geneticamente distintos dos cães que vivem fora da área, até mesmo de populações vizinhas.
Isso chamou atenção para uma possível ligação com radiação, mas testes aprofundados conduzidos em 2024 pelo geneticista Matthew Breen, da Universidade Estadual da Carolina do Norte, não encontraram evidências claras de mutações induzidas pela radiação.
O time analisou desde grandes estruturas cromossômicas até sequências menores de DNA, mas não detectou níveis preocupantes de exposição.
Para o cientista Norman Kleiman, da Universidade Columbia, o motivo pode ser algo bem prático:
“Os cães não são estúpidos. Eles ficam onde as pessoas estão, onde vão ser alimentados.”
Ou seja: eles se concentram nas áreas menos contaminadas, onde ainda há atividade humana.
Se não é radiação, então de onde vêm as diferenças genéticas?
Os pesquisadores apontam duas hipóteses principais:
- Deriva genética – populações pequenas e isoladas podem reforçar características ao longo de gerações simplesmente por acaso.
- Seleção natural em ambiente hostil – sobrevivem os mais resistentes a toxinas, metais pesados e condições severas, transmitindo essas características adiante.
Por enquanto, o consenso é: os cães de Chernobyl são um raro exemplo de adaptação a um ambiente extremo — e ainda encontram tempo para virar manchete mundial por causa de um banho em banheiro químico.
Larissa é jornalista e escreve para o Amo Meu Pet desde 2023. Mora no Rio Grande do Sul, tem hobbies intermináveis e acha que todos os animais são fofos e abraçáveis. Ela se formou em Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e é “mãe” de duas gatas.
