“Todos estão bem, não tentem em casa!”: Jovem tem reação inusitada ao ter casa invadida por família numerosa de animais
Por Larissa Soares em Mundo AnimalMorando em frente a uma região de mata, a internauta Laura já estava acostumada a ver diferentes espécies de animais. Até que, em um dia comum, enquanto lavava vasilhas na sacada, levou um susto.
Três macaquinhos da espécie sagui-de-tufos-pretos apareceram na sacada, se aproximaram e, de repente, entraram na casa, como se fossem apenas vizinhos. E eles queriam banana.
Logo, os três viraram cinco. Depois sete. Quando Laura percebeu, já havia uma pequena multidão de saguis ali. Alguns carregando filhotes nas costas, outros escalando as pernas dela como se fossem velhos conhecidos.
“Nunca vi tantos assim”, escreveu ela ao publicar o vídeo.
Os internautas, claro, foram à loucura.
“Moça, conta pra gente: como é ser a Branca de Neve?”, brincou um internauta.
“Moça vou rezar por você hoje porque senti inveja”, comentou outro.
“Eu sou igual a essa moça, e por isso tomei 5 doses de anti rábica, mas valeu a pena”, se identificou mais um.
Mas, junto do encantamento, veio o sinal de alerta. Muitos seguidores demonstraram preocupação com o contato tão próximo com animais silvestres.
Laura percebeu o tamanho da repercussão e publicou uma atualização para tranquilizar o público:
“Ressalto que todos estão bem, tanto eu, quanto eles.” E complementou:
“Importante: não tentem reproduzir em casa, tá? Se você não tem o costume com esse tipo de interação, pode acabar não sendo seguro!”
O aviso não veio à toa. Nos comentários, vários internautas reforçaram os riscos:
“Alguém aqui tem noção do quanto isso é preocupante? Não se deve colocar comida para esses animais… isso incentiva a buscarem contato com humanos que podem não tratar bem”, alertou uma seguidora.
Outra pessoa lembrou de um perigo grave:
“É muito bonito, porém tenha cuidado porque animais silvestres podem transmitir a raiva.”
E uma terceira explicação trouxe pontos técnicos:
“Essa prática não é positiva. Compartilhamos doenças com primatas. Herpes simples, que a maioria das pessoas carrega sem saber, mata saguis em poucos dias. Além disso, eles passam a procurar comida fácil e ficam vulneráveis a maus-tratos, acidentes, eletrocussão e tráfico.”
A discussão, que surgiu de forma espontânea, reforça algo que especialistas vêm alertando há anos: por mais encantadores que sejam, animais silvestres não devem ser alimentados nem tocados.
Por que não alimentar animais silvestres?
De acordo com o Instituto Butantan, o contato próximo com animais silvestres, incluindo saguis, capivaras, aves e morcegos, representa risco tanto para humanos, quanto para os próprios animais.
A bióloga Erika Hingst-Zaher, diretora do Museu Biológico da instituição, explica que a proximidade favorece a transmissão de doenças. E isso inclui zoonoses graves, como:
- Raiva – transmitida por mordidas, arranhões ou saliva; é quase sempre fatal se não tratada imediatamente. Entre 2010 e 2024, o Brasil registrou 48 casos de raiva humana, dois deles transmitidos por saguis.
- Gripe aviária, leptospirose, doença de Chagas e febre maculosa – cada uma transmitida de formas diferentes, mas todas relacionadas à proximidade inadequada com a fauna silvestre.
A especialista reforça: animais, como os saguis, não representam perigo se mantidos a distância. O problema é quando nós atravessamos a linha.
Além de doenças, alimentar saguis pode causar outros prejuízos:
- Eles param de procurar alimento e passam a depender de humanos.
- Aumentam as interações de risco com casas, fios elétricos e cães.
- Ficam vulneráveis ao tráfico, já que perdem o medo de pessoas.
- Podem desenvolver doenças metabólicas, como obesidade, diabetes, colesterol alto, porque sua dieta natural é substituída por frutas em excesso e alimentos inadequados.
- Desestabilizam o ecossistema, porque populações exóticas (como saguis introduzidos em áreas fora de sua distribuição original) começam a se multiplicar acima do esperado.
Quem são os saguis que visitaram Laura?
Os visitantes ilustres que invadiram a sacada de Laura eram saguis-de-tufos-pretos (Callithrix penicillata), também conhecidos como mico-estrela.
Segundo o Museu do Cerrado, eles:
- medem cerca de 20 cm
- pesam entre 200 e 350 gramas
- têm tufos auriculares pretos, testa clara e cauda listrada
- vivem em grupos de 2 a 13 indivíduos
- têm dieta variada: frutas, insetos, néctar, folhas e até fluídos de árvores
- são nativos do Cerrado, mas se adaptaram muito bem a áreas urbanas e degradadas
Por serem animais curiosos, se tornaram comuns em várias cidades brasileiras, inclusive onde não eram originalmente encontrados. Isso aconteceu devido ao tráfico, solturas inadequadas e mudanças ambientais.
Apesar de toda a fofura, eles continuam sendo animais selvagens: têm comportamento territorialista, podem carregar doenças e dependem de sua dieta e organização social para se manter saudáveis.
Larissa é jornalista e escreve para o Amo Meu Pet desde 2023. Mora no Rio Grande do Sul, tem hobbies intermináveis e acha que todos os animais são fofos e abraçáveis. Ela se formou em Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e é “mãe” de duas gatas.
