De um prato de comida a um ‘CÃOdomínio’: gaúcha constrói vila para abrigar cadela e nove filhotes surpresa
Por Beatriz Menezes em Cães
Camila Beck acordou acreditando que teria mais um dia comum em sua propriedade no interior do Rio Grande do Sul, mas a realidade que a aguardava do lado de fora era drasticamente diferente.
Em 23 de novembro a moradora percebeu que havia "ganhado" não apenas um ou dois, mas nove cachorros de uma só vez. A responsável pelo presente inesperado foi uma vira-lata que Camila costumava alimentar na entrada do sítio.
Em um ato de confiança extrema e busca por sobrevivência, a cadela decidiu transferir toda a sua ninhada para o único lugar onde recebia carinho e comida.
O que era para ser apenas uma manhã tranquila transformou-se em uma operação de contagem e resgate. Ao sair de casa, Camila se deparou com a nova e numerosa família espalhada pelo terreno.
A cena inicial mostrava apenas dois filhotes, mas uma inspeção mais detalhada revelou a dimensão real da surpresa. Pequenos cães saíam de buracos na madeira, debaixo de estruturas da casa e de cantos improváveis do quintal.
A cada momento que a gaúcha vasculhava a área, o número aumentava. De cinco passou para sete, e a incredulidade tomou conta da situação.
A gestão da crise exigiu criatividade imediata. Com tantos animais idênticos correndo pela grama e se escondendo, Camila precisou criar um sistema para não perder o controle de quem já havia sido medicado contra vermes e pulgas.
A solução foi doméstica e prática, utilizando esmalte de unha para fazer pintas na testa dos filhotes já contabilizados. Quando a contagem parecia ter estacionado em oito animais, uma última verificação atrás do celeiro revelou o nono integrante da ninhada.
O filhote estava isolado, sem a marca de esmalte e apresentava ferimentos na pata, exigindo cuidados veterinários urgentes. O saldo final daquela manhã foi a adição de dez novos animais à família de Camila, somando os nove filhotes e a mãe.
Como ela já possuía seis cães anteriormente, a população canina da residência saltou para dezesseis animais em questão de horas. O impacto dessa mudança repentina foi sentido tanto na logística quanto no orçamento doméstico.
Confira abaixo:
A família, que havia se mudado recentemente para a localidade e ainda possuía pouca rede de contatos, viu-se diante do desafio de abrigar, alimentar e cuidar de uma matilha inteira sem aviso prévio.
Em 26 de novembro, três dias após a adoção forçada, ela construiu um abrigo com telhas de amianto para proteger os pequenos do vento forte e da chuva, comuns na região. No entanto, a solução temporária não seria suficiente a longo prazo.
Camila sabia que a doação responsável de cães sem raça definida e de porte grande é uma tarefa árdua. O receio de que os animais fossem adotados por impulso enquanto filhotes e abandonados ao crescerem fez com que ela tomasse uma decisão radical.
Se não encontrasse lares perfeitos, ela mesma garantiria a qualidade de vida deles.
Assista:
Foi assim que nasceu o projeto do CÃOdomínio. No dia 2 de dezembro a gaúcha decidiu delimitar uma área específica de sua propriedade para construir uma vila segura para os animais.
O planejamento envolveu a compra de materiais pesados e muito trabalho manual. Foram adquiridos diversos mourões de eucalipto e rolos de tela de arame com um metro e meio de altura, medida necessária para evitar que os cães pulem a cerca quando atingirem a idade adulta.
A construção foi projetada em formato de L, integrando o espaço a uma área coberta já existente e separando os cães de outros animais do sítio, como os cavalos.
As imagens divulgadas por Camila mostram o passo a passo da edificação. O processo envolveu desde o corte da madeira com motosserra até a escavação manual dos buracos para fixar os postes.
A obra contou até com a supervisão de um dos filhotes, apelidado de Cascatinha, que acompanhava o trabalho de perto.
O objetivo é criar um ambiente organizado, com casinhas coloridas dispostas lado a lado e uma área de banho, facilitando a manutenção da higiene e a convivência pacífica entre tantos animais.
A realidade financeira por trás da atitude solidária é pesada. Camila compartilha com seus 128 mil seguidores que a manutenção dos 16 cães demanda cerca de 20 quilos de ração por semana. Além da alimentação, os custos veterinários são constantes.
Confira:
A castração da mãe da ninhada já foi providenciada, ao custo de 170 reais, e a projeção é que as cinco fêmeas filhotes precisem passar pelo mesmo procedimento em cerca de seis meses para evitar um novo crescimento populacional descontrolado. Os quatro machos também precisarão de cuidados contínuos.
A estrutura física do CÃOdomínio já começou a tomar forma com o fechamento da parte dos fundos e a instalação dos portões na frente. O esforço para transformar o quintal em um santuário reflete a responsabilidade assumida por Camila.
Ela entende que a "galera" que a adotou depende inteiramente dela para sobreviver. Enquanto avalia possíveis adotantes criteriosos, a moradora segue focada em terminar a construção e garantir que a surpresa daquela manhã se transforme em uma história de final feliz, com todos os dezesseis cães vivendo com dignidade e segurança.
Acompanhe a atualização do cãodomínio em @cmilabeck.









