"Ela tem a manha": Conheça Caramela Luna uma vira-lata que utiliza o carinho para negociar a paz após dias de travessura

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O tutor da vira-lata Luna não precisa entrar na residência em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, para constatar se o quintal está em ordem.

O diagnóstico sobre o estado da casa é obtido por meio da análise da fisionomia do animal. Se a cadela apresenta um comportamento dócil, oferece a pata para cumprimento e exibe o que parece ser um sorriso, o proprietário identifica imediatamente que houve algum incidente na área externa.

A rotina de Luna é documentada no perfil @caramelaluna_oficial, no TikTok, onde soma 44 mil seguidores.

De acordo com os registros da página, a cadela desenvolveu um padrão de comportamento que funciona como uma confissão espontânea.

Em uma publicação de março, a legenda do vídeo esclarece que ela se entrega sozinha e que a aparência calma não deve ser interpretada como ausência de culpa.

O histórico de ocorrências no quintal inclui a remoção de roupas do varal e a abertura de buracos em diversos pontos do terreno.

Entre os episódios registrados, destaca-se a destruição de uma Bíblia pertencente à família.

O modus operandi de Luna:

A bagunça ela não começa de forma imediata, a caramela sabe preparar o terreno antes de ganhar a confiança de todos. Primeiro, a ação consiste em conquistar o afeto dos moradores para, em seguida, ocupar espaços como a cama e o sofá.

Porém, a dinâmica familiar passou por mudanças recentes com a inclusão de Lilica, uma vira-lata de pelagem preta.

Havia a hipótese de que a nova companhia pudesse alterar o comportamento de Luna, cessando a abertura de buracos ou a retirada de roupas do varal.

No entanto, as atualizações na rede social mostram que ambas mantêm o comportamento agitado no momento.

A cadela utiliza o contato físico e o olhar para mitigar as reações do tutor após as bagunças. Mesmo diante de danos materiais, o animal busca o carinho imediato, o que resulta na interrupção de eventuais repreensões.

Confira o vídeo abaixo:

Estudo indica que animais sabem diferenciar certo do errado

De acordo com o CRMVSP estudos realizados pela Universidade do Colorado apontam evidências de que animais possuem formas de senso moral, diferenciando ações dentro de um círculo social.

Em canídeos selvagens, como lobos e coiotes, códigos de conduta rígidos regem a vida em alcateia, onde atos de altruísmo, perdão e justiça são observados para garantir a coesão do grupo.

No caso dos cães domésticos, essa moralidade se manifesta de formas específicas:

  • Interação social: durante brincadeiras, cães utilizam sinais para indicar intenções amigáveis e parecem pedir desculpas quando a intensidade do jogo excede o limite aceitável.
  • Senso de equidade: uma investigação da Universidade de Viena comprovou que cães demonstram sinais de estresse, como grunhidos e latidos, ao perceberem que um semelhante recebeu recompensa por uma tarefa enquanto eles foram privados do benefício.

O papel da neurologia na conduta animal

A dificuldade em comprovar o senso de moralidade reside na complexidade do cérebro animal. Contudo, experimentos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) realizados em humanos ofereceram pistas sobre o funcionamento de áreas cerebrais ligadas ao julgamento moral.

Ao utilizar estimulação magnética na junção temporo-parietal, pesquisadores observaram mudanças temporárias na capacidade de realizar julgamentos éticos.

A comunidade científica acredita na existência de mecanismos análogos em animais, onde áreas cerebrais específicas seriam responsáveis por processar noções de conduta social e regras de convivência.

Mas será que eles sentem culpa?

De acordo com informações do American Kennel Club, a postura que muitos tutores interpretam como arrependimento após uma travessura pode ser, na verdade, um exemplo de antropomorfismo.

Este fenômeno ocorre quando características e sentimentos humanos são atribuídos aos animais.

Um estudo coordenado pela Dra. Alexandra Horowitz em 2009 trouxe as seguintes conclusões sobre o comportamento:

  • Resposta ao tutor: cães exibem a linguagem corporal de "culpa" com maior frequência ao serem repreendidos, independentemente de terem cometido um erro ou não.
  • Linguagem corporal: o comportamento é mais acentuado quando o dono apresenta uma postura de censura do que quando permanece neutro.
  • Reconhecimento de sinais: o chamado "olhar de culpa" é definido pela Dra. Horowitz como uma resposta aos sinais de desaprovação do dono, e não necessariamente um reconhecimento da própria transgressão.

Para mitigar comportamentos destrutivos em animais de estimação, é fundamental compreender que o ato de roer é uma necessidade biológica e informativa para os cães.

Enquanto filhotes utilizam a boca para aprender sobre o ambiente e aliviar o desconforto da troca de dentes, adultos recorrem à mastigação para higiene bucal ou para combater o tédio, estresse e ansiedade.

Abaixo, os métodos indicados para gerenciar e solucionar essas condutas:

1. Redirecionamento e alternativas adequadas

Não é recomendado tentar bloquear o comportamento natural de roer, mas sim oferecer opções permitidas.

  • Ofereça brinquedos específicos: substitua objetos proibidos, como sapatos, por ossos ou brinquedos apropriados.
  • Segurança em primeiro lugar: escolha itens compatíveis com o tamanho e força do animal para evitar engasgos ou ferimentos com pontas e fragmentos. Evite pelúcias e enchimentos se o cão for destrutivo.
  • Diferenciação clara: os brinquedos do cão devem ser visualmente diferentes dos objetos da casa. Oferecer um sapato velho, por exemplo, confunde o animal, que não saberá distinguir quais calçados pode ou não morder.

2. Gastos de energia e exercícios físicos

O tédio e a ansiedade são os principais combustíveis para a destruição de móveis e objetos.

  • Caminhadas diárias: um cão cansado após um passeio tende a relaxar em vez de roer o sofá.
  • Saúde emocional: o exercício fortalece o vínculo com o tutor e auxilia no controle da ansiedade por separação.

Agora Lilica chegou para completar a bagunça:

3. Estimulação mental e brincadeiras

Atividades que desafiam o intelecto do animal ajudam a canalizar energia de forma positiva.

  • Sessões diárias: brincar por apenas cinco minutos ao dia já ajuda a direcionar o foco do pet.
  • Brinquedos interativos: dispositivos que liberam alimento ou oferecem desafios mantêm o cão ocupado por longos períodos, especialmente quando ele está sozinho.

4. Correção e uso de repelentes

A punição severa é ineficaz, pois o animal muitas vezes não compreende a proibição ou busca atenção.

  • Flagrante: ao notar o erro, diga "não", retire o objeto e entregue a alternativa correta imediatamente.
  • Controle: se o cão foge com o objeto, não corra atrás dele, pois isso estimula uma brincadeira. Use uma guia para limitar o movimento se necessário.
  • Auxiliares olfativos: a aplicação de repelentes específicos com odor e sabor desagradáveis em móveis favoritos do pet pode desestimular a mordedura.

5. Gestão do ambiente e expectativas

É necessário facilitar o sucesso do animal mantendo tentações fora de seu alcance.

  • Organização: guarde documentos, dinheiro, joias e objetos perigosos (como fios elétricos e produtos de limpeza) em locais protegidos.
  • Limitação de acesso: mantenha portas fechadas para impedir que o cão entre sozinho em cômodos onde ele costuma aprontar.
  • Ajuda profissional: caso o comportamento persista de forma severa, recomenda-se buscar auxílio de especialistas em comportamento animal.

Seu cão também costuma ‘se entregar’ após aprontar? Conta pra gente nos comentários.

Beatriz é jornalista formada pela Universidade de Passo Fundo, com especialização em Escrita Criativa e Editoração pela Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera. Apaixonada por narrativas envolventes e pelo universo pet, ela também possui certificação em Storytelling para Marketing Digital pela Santander Open Academy, o que complementa sua habilidade de transformar histórias reais em conteúdos informativos e inspiradores. Dedica-se à produção de reportagens que valorizam a convivência ética e afetiva entre humanos e animais de estimação, promovendo empatia, informação de qualidade e o respeito aos animais.