Filhotes de morcego são salvos após tempestade e recebem segunda chance graças a ação de resgate
Apesar dos esforços dos protetores, 11 não sobreviveram.
Por Beatriz Menezes em Mundo AnimalEm meio aos estragos causados por uma forte tempestade no sudoeste da Flórida, uma cena inusitada chamou a atenção de moradores e ativistas da causa animal.
Centenas de filhotes de morcego foram encontrados no chão, aglomerados sob galhos quebrados de uma palmeira.
Tudo começou quando um morador da região, ao avaliar os danos causados pelo temporal em seu jardim, percebeu que uma grande folha havia caído de uma árvore.

Ao levantar o galho, se deparou com um agrupamento de pequenos morcegos, assustados e vulneráveis, incapazes de voar ou se defender sozinhos.
Rapidamente, o caso foi comunicado ao Hospital de Vida Selvagem von Arx, que atua na reabilitação de animais nativos no estado. Em questão de minutos, uma equipe de socorristas chegou ao local para resgatar os filhotes.
Com o auxílio de cobertores e caixas apropriadas, os profissionais recolheram exatamente 156 morcegos bebês, dando início a um cuidadoso processo de triagem.
Segundo a equipe da Conservancy of Southwest Florida, parceira do hospital, 145 filhotes sobreviveram e estavam em condições estáveis. Infelizmente, 11 não resistiram aos impactos da queda.

Como os morcegos ainda dependiam dos pais para se alimentar, a estratégia da equipe foi encontrar uma maneira segura de reconectá-los com suas famílias.
Com a orientação de especialistas do Bat World Sanctuary, foi construída uma caixa-ninho no mesmo ponto onde os filhotes haviam sido encontrados.
A estrutura foi instalada em uma árvore próxima, com o apoio técnico da empresa Homegrown Tree Care, e equipada com uma cortina protetora que impediria novas quedas.
Aos poucos, os pais começaram a localizar seus filhotes. Nos dias seguintes, equipes voltaram regularmente para monitorar a situação.

Nenhum dos pequenos foi encontrado no chão, um indicativo claro de que os morcegos adultos estavam cuidando de suas crias com sucesso.
“Foi um trabalho coletivo, movido por empatia e dedicação. A resposta rápida fez toda a diferença”, afirmou Reneé Stoll, porta-voz da conservancy.
Segundo ela, o hospital recebe cerca de 4 mil animais por ano e conta com o apoio de voluntários para preservar a fauna local.
Casos como esse nos fazem refletir de que o cuidado com os animais deve ir além dos cães e gatos, toda vida, inclusive a selvagem, merece proteção.
Casos como esse destacam a importância da preservação da vida silvestre e da conscientização sobre o impacto das ações humanas e climáticas no ecossistema. Os morcegos, muitas vezes incompreendidos, têm papel essencial no controle de insetos e na polinização de diversas espécies e, sim, também merecem ser salvos.

Curiosidade:
Embora o resgate tenha envolvido mais de 150 filhotes, vale destacar que os morcegos geralmente dão à luz apenas um filhote por gestação, de acordo com rotauniprag.
Após um período de cerca de sete semanas de gestação, nasce um único filhote cego, sem pelos e totalmente dependente da mãe. As fêmeas amamentam suas crias por até seis semanas, até que estejam prontas para voar.
Por isso, uma perda em massa como a que poderia ter ocorrido nessa tempestade representa um grande risco para a manutenção das colônias.
Em condições favoráveis, esses mamíferos podem viver por até 16 anos, desempenhando papéis essenciais na natureza, como o controle de insetos e a polinização.

Mas por que salvar morcegos?
A Bat World Sanctuary embora muitas vezes mal compreendidos, os morcegos são vitais para a saúde do planeta e o equilíbrio do ecossistema.
Estima-se que 1 em cada 4 mamíferos da Terra seja um morcego, e se você usa produtos como xampu, pasta de dente, café, frutas, cosméticos, madeira, medicamentos ou até mesmo toma uma cerveja de vez em quando, você já depende, mesmo sem saber, do trabalho silencioso desses animais.
Controle de pragas: cerca de 70% das espécies de morcegos se alimentam de insetos. Cada um pode consumir até 5 mil insetos por noite, incluindo pragas que devastam plantações. Isso reduz o uso de agrotóxicos e ajuda a manter os preços de alimentos mais acessíveis.
Polinização e reflorestamento: aproximadamente 30% dos morcegos consomem frutas ou néctar. Eles polinizam espécies como banana, manga, abacate, tâmara, figo e eucalipto, e ainda dispersam sementes por florestas tropicais. Sem eles, florestas inteiras deixariam de se regenerar naturalmente.
Espécie-chave na natureza: os morcegos existem há mais de 50 milhões de anos e têm papel insubstituível no equilíbrio ambiental. Apesar disso, são frequentemente injustiçados, vistos como pragas ou associados a mitos de terror.
A verdade é que menos de 1% das espécies são hematófagas, e nenhuma delas vive nos Estados Unidos ou no Brasil.
Morcegos no Brasil: conheça a família mais comum e suas espécies surpreendentes
O Brasil abriga uma das maiores diversidades de morcegos do mundo. Entre as espécies encontradas no país, a família Phyllostomidae se destaca como a mais representativa. Com 92 espécies catalogadas, essa família é conhecida por sua enorme variedade de hábitos alimentares e tipos de abrigo.
Uma característica marcante dos morcegos da família Phyllostomidae é a presença da chamada folha nasal, uma estrutura membranosa localizada no focinho, essencial para a ecolocalização, mecanismo utilizado para se orientar e caçar no escuro.
Espécies mais comuns da Phyllostomidae no Brasil
1. Artibeus lituratus
Espécie frugívora facilmente identificada pelas quatro listras na face. Alimenta-se de frutas, flores, folhas, pólen e insetos. Com envergadura de até 50 centímetros, realiza voos rasantes e costuma se abrigar nas copas das árvores, formando pequenos grupos.
2. Platyrrhinus lineatus
Tem comportamento semelhante ao da espécie anterior. Apresenta quatro listras faciais e uma linha adicional ao longo do dorso. Mede cerca de 30 centímetros e também realiza voos próximos ao solo em busca de alimento.
3. Glossophaga soricina
De pequeno porte, com aproximadamente 18 centímetros, essa espécie possui focinho alongado e língua extensa, adaptada à alimentação com néctar, frutas e insetos. É frequentemente vista perto de varandas com bebedouros de beija-flores e, por esse motivo, pode entrar acidentalmente em residências.
4. Desmodus rotundus
Conhecido como morcego-vampiro comum, mede cerca de 35 centímetros e é a única espécie do grupo que se alimenta de sangue. Sua dieta hematófaga é voltada a mamíferos. Pode ser encontrado em áreas de mata fechada, cavernas, construções abandonadas e até sistemas de esgoto urbano.
Você já teve contato com algum morcego? Conta pra gente!