Após mais de 4.000 dias, cão que passou a vida em instituição de Curitiba encontra família amorosa e se despede dos funcionários
Por Beatriz Menezes em CãesNo dia 5 de maio, a ONG Grupo Força Animal, com sede na região metropolitana de Curitiba (PR), anunciou a adoção de Sheik, um cão idoso de 16 anos que passou mais de 11 anos vivendo em uma instituição, desde que foi resgatado após sofrer maus-tratos.
A publicação feita pela ONG no Instagram emocionou milhares de pessoas. O vídeo do cão se despedindo de todos os funcionários e protetores para no final ser recepcionado por sua nova tutora, foi acompanhado de uma legenda poderosa:
“Demorou... Mas o amor chegou. Foram 4.015 dias. Foram 96.360 horas. Uma vida inteira de espera.”.
Essa é a história de um cão que sobreviveu à dor, ao abandono e à invisibilidade e que, no fim da vida, finalmente conheceu o amor de um lar.
Sheik chegou ao Grupo Força Animal em 2014, vítima de uma das formas mais cruéis de violência contra animais.
Segundo os relatos da equipe, ele havia sido atingido por uma facada profunda e apresentava uma grave bicheira na cabeça. O prognóstico era incerto.
Após ser tratado com dedicação e cuidado por uma equipe de voluntários e veterinários parceiros, Sheik venceu a dor física, mas carregava traumas emocionais silenciosos.
Era um cão de porte médio, sem raça definida, com aparência comum, o que infelizmente contribuiu para que fosse ignorado em inúmeras feiras de adoção.
Enquanto via outros cães sendo adotados, alguns após poucos meses, outros após poucos anos Sheik permaneceu no abrigo. Seus dias eram feitos de rotinas, breves carinhos, latidos ao longe e olhares esperançosos.
Em determinado momento, perdeu até mesmo sua melhor amiga de canil, que envelheceu e faleceu ao seu lado.
O luto abalou profundamente Sheik, que passou dias sem comer, se isolando, sem o brilho no olhar. “Ele chorava em silêncio”, escreveu a equipe da ONG.
A decisão de parar de levá-lo às feiras
Foi nesse contexto que os voluntários tomaram uma decisão difícil de que Sheik não participaria mais de feiras de adoção.
“Já não havia mais tempo a perder com rejeições. Mas mesmo assim... nunca desistimos de postar, de acreditar, de pedir”, acrescentou a equipe.
Durante anos, fotos e textos sobre Sheik eram compartilhados nas redes sociais do Grupo Força Animal.
Apesar da idade avançada, os voluntários continuavam nutrindo a esperança de que alguém, um dia, olhasse para ele com o carinho que merecia.
O milagre aconteceu e Sheik foi adotado aos 16 anos
E o tão esperado dia chegou. Em 5 de maio de 2025, Sheik finalmente foi adotado.
Quem deu esse passo de amor foi Andreia Duarte, uma seguidora da ONG que acompanhava a história do cão pelas redes sociais e decidiu oferecer a ele um lar para viver seus últimos anos com dignidade, conforto e, principalmente, afeto.
“Hoje o Sheik vai dormir em uma cama de verdade. Vai ter um sofá para chamar de seu. Um colo só dele. Uma casa. Um lar”, celebrou um porta-voz da equipe.
A história de Sheik é apenas uma entre milhares que passam pela sede campestre do Grupo Força Animal, que atua desde 2014 em Curitiba e Região Metropolitana.
Com um trabalho focado na recuperação física e emocional de animais em situação extrema, a ONG já resgatou mais de 3.000 animais, entre cães, gatos, cavalos, vacas e até animais silvestres como corujas e gaviões.
A sede não é um abrigo tradicional, mas sim um rancho de reabilitação e reinserção, onde cerca de 400 animais vivem em transição, aguardando adoção. Muitos deles foram vítimas de abandono, maus-tratos, atropelamentos e negligência.
“Nosso trabalho vai além do resgate. Nós cuidamos da reintegração dos animais, tratando seus traumas e preparando-os para uma nova vida”, afirma a equipe.
A ONG é totalmente independente e sobrevive exclusivamente de doações da comunidade, que são destinadas ao pagamento de tratamentos veterinários, compra de ração, transporte e hospedagem em lares temporários.
O caso de Sheik joga luz sobre a importância de olhar com carinho para animais idosos ou com histórico de trauma. Apesar da idade avançada, esses pets ainda têm muito a oferecer, inclusive gratidão e companheirismo únicos.
Adotar um animal como Sheik é um ato de coragem e compaixão. Não é sobre o tempo que falta, mas sobre a qualidade de vida que podemos oferecer a eles.
“O nosso cão mais velho da ONG, o que todos diziam que ‘ninguém iria querer’, o que ficou para trás tantas vezes, agora finalmente foi escolhido. E é com o coração em lágrimas que nos despedimos desse guerreiro que nunca perdeu a esperança. Sheik, você venceu. Você vai embora para viver o melhor capítulo da sua vida. Obrigado por nunca ter desistido, mesmo quando o mundo parecia ter desistido de você.”.
Assista o vídeo abaixo:
Repercussão nas redes sociais
A adoção de Sheik rapidamente viralizou. Diversos internautas comentaram emocionados, dizendo que a história serviu como inspiração para considerarem a adoção de animais mais velhos.
Entre os comentários, destaca-se o de uma internauta que contou:
“Resgatei uma idosinha da BR pensando em dar um fim digno pra ela, ela parecia estar no finalzinho da vida dela e minha mãe se apaixonou, adotou e deu um lar. Hoje, a quase um ano, ela é SUPER saudável, ativa, um grude e um doce. Ela mudou da água pro vinho, os idosos precisam de uma chance. Obrigada por nunca desistirem dele!!!”, disse Maria.
Como ajudar a ONG Força Animal
O trabalho do Grupo Força Animal só é possível graças ao apoio de pessoas que acreditam na proteção animal. Para ajudar, os interessados podem:
- Fazer doações financeiras via Pix, cartão ou boleto no site da ONG
- Contribuir com ração, medicamentos ou produtos de limpeza
- Adotar um animal resgatado e oferecer um novo começo
- Tornar-se voluntário, ajudando nas rotinas do rancho ou nas feiras
Todas as informações estão disponíveis no Instagram oficial da ONG: @grupoforcaanimal.
Embora agora esteja longe da sede do rancho, Sheik continua presente no coração de todos que acompanharam sua trajetória. Ele se tornou o símbolo de que nunca é tarde para acreditar, e que, mesmo em meio às adversidades, a esperança deve ser cultivada.
“Vai, meu velho… Vai ser feliz. A gente fica aqui com saudade e o peito cheio de amor”, finalizou a equipe da ONG em seu emocionante post de despedida.
Que a jornada de Sheik inspire muitas outras famílias a abrirem o coração para animais esquecidos. E que cada adoção tardia seja celebrada como um verdadeiro renascimento.