Caixa lacrada no meio do canavial chama a atenção de homem e revela serzinho que precisava de ajuda
Por Ana Carolina Câmara em CãesUm funcionário da PAWS Mauritius, chamado Joanito, estava a caminho do trabalho quando se deparou com uma caixa de papelão abandonada nos canaviais ao redor do abrigo de animais.
Ao se aproximar, percebeu que havia algo dentro. Foi assim que começou mais um resgate comovente.
Joanito faz parte da equipe da PAWS, sigla para Protection of Animal Welfare Society, uma organização não governamental dedicada ao bem-estar animal na ilha Maurício, um país insular localizado no Oceano Índico.
A entidade é responsável por resgatar cães e gatos em situação de abandono, oferecendo tratamento veterinário, abrigo temporário e campanhas de adoção responsável. Além disso, promove ações de castração e educação comunitária sobre cuidados com os animais.
A sede da PAWS fica em Union Vale, Trois Boutiques, e a organização mantém dois abrigos com clínicas veterinárias distribuídas em diferentes regiões da ilha. Seu funcionamento é mantido exclusivamente por doações, apoio de empresas e voluntários, já que não recebe recursos do governo local.
Funcionários como Joanito são responsáveis por grande parte do trabalho diário nos resgates, cuidados médicos, organização dos espaços e sensibilização da população. Tudo com o objetivo de dar uma nova chance aos animais que mais precisam.
E foi exatamente isso que aconteceu naquela manhã. Ao encontrar a cachorrinha dentro da caixa, Joanito não hesitou em acolhê-la. Levou-a até o abrigo, garantindo que ela tivesse uma nova chance de recomeçar, longe do abandono e cercada de atenção e carinho.
O resgate
Quando Joanito encontrou a caixa envolta de uma corda, logo suspeitou que havia algo errado. Aproximou-se e, ao abrir a tampa, se deparou com uma filhote assustada, encolhida, sem comida, água ou qualquer proteção contra o sol intenso da manhã.
A cachorrinha estava assustada e provavelmente devia estar há horas naquela caixa, sem entender por que havia sido deixada ali, no meio dos canaviais.
Por mais que o abrigo estivesse operando no limite da capacidade, Joanito sabia que não podia simplesmente ignorar aquela situação. O olhar da cachorrinha pedindo por socorro era mais forte do que qualquer dificuldade.
Então, ele pegou a filhote e a carregou até o abrigo. Ali, ela recebeu água, comida, atendimento veterinário e, provavelmente pela primeira vez em muito tempo, um pouco de paz.
“Nunca viramos as costas para animais abandonados, pois somos a única chance deles de sobrevivência”, disse um representante da PAWS Mauritius ao The Dodo. “Então, mesmo que nossos abrigos estejam lotados, encontraremos um lugar para abrigar os filhotes de cachorro ou gato abandonados.”
No abrigo...
A filhote foi nomeada Hope e passou por uma bateria de exames para avaliar seu estado de saúde. Apesar do susto e da desnutrição, ela não apresentava ferimentos graves e, com os primeiros cuidados, logo começou a reagir de forma positiva.
Em poucos dias, já havia ganhado peso, demonstrava mais energia e tinha até uma caminha só dela - macia, limpa e segura, bem distante daquela antiga caixa de papelão que marcou seu abandono cruel.
O abrigo compartilhou em seu perfil no Facebook, no dia 4 de julho, a história de Hope. Na publicação, informaram que a filhote já está vermifugada, vacinada e que, em breve, será castrada.
O objetivo era encontrar um lar amoroso para essa lindinha. Aproveitaram também o espaço para desabafar:
"A crueldade não conhece limites onde quer que existam seres humanos!"
A postagem acumulou mais de 839 reações e centenas de comentários emocionados e revoltados com o abandono.
“A lei da natureza certamente se aplicará um dia. Este criminoso que fez isso certamente pagará. Tenho certeza disso”, escreveu um internauta.
“Por que eles não podem simplesmente entregá-lo?”, questionou outro, indignado com o fato de a cachorrinha ter sido deixada tão perto do abrigo.
“Isso é absolutamente ultrajante e de cortar o coração! Como alguém pode fazer algo tão cruel?”, comentou uma terceira pessoa.
“Não há câmeras por perto? Como as pessoas conseguem fazer isso? Pobre bebê”, disse outra.
A indignação online foi grande, mas o mais importante é que a mensagem chegou até quem precisava: alguém disposto a mudar o destino de Hope.
Nova vida
Um homem chamado Voshan ficou comovido com a história da cachorrinha e entrou em contato com o abrigo, determinado a conhecê-la pessoalmente. Quando se encontraram pela primeira vez, foi conexão imediata.
“Ela estava assustada, tímida e estressada quando chegou até nós”, disse o representante. “Mas em seu novo lar, ela saiu da concha e é uma cachorrinha feliz e mimada.”
Agora essa lindinha vive segura e cercada de amor ao lado de Voshan, que não mede esforços para garantir que ela nunca mais passe por sofrimento.
Hope deixou para trás o abandono e ganhou uma nova vida, cheia de carinho, cuidados e a certeza de que, desta vez, foi escolhida para ser amada.
Infelizmente, o abrigo não possui um sistema de segurança por câmeras para verificar as imagens e descobrir quem abandonou a filhote nos canaviais.
Sem registros visuais, a identificação do responsável se torna quase impossível, o que reforça ainda mais a importância de políticas públicas e fiscalização rigorosa para combater o abandono de animais.
Abandono de animais no Brasil é crime?
Sim, o abandono de animais no Brasil é considerado crime pela legislação vigente. De acordo com a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), maltratar, ferir ou abandonar animais configura crime, conforme o artigo 32.
A pena prevista é de três meses a um ano de detenção e multa, podendo ser aumentada em casos mais graves, como quando há lesões ou morte do animal.
Com a aprovação da Lei nº 14.064/2020, as penas para maus-tratos contra cães e gatos foram significativamente aumentadas. Nesses casos, a reclusão pode variar de dois a cinco anos, além de multa e proibição de guarda futura do animal.
Além disso, o artigo 164 do Código Penal também trata do abandono de animais em propriedade alheia sem o consentimento do dono, prevendo pena de detenção de 15 dias a 6 meses ou multa.
Essas leis têm como objetivo coibir o abandono e os maus-tratos, reforçando a responsabilidade legal que os tutores têm sobre seus animais de estimação.
Segundo matéria publicada pela Universidade de Brasília (UnB), o abandono é uma forma grave de violência contra os animais e precisa ser denunciado.
A reportagem reforça que a denúncia pode ser feita à Polícia Militar, Ministério Público ou a órgãos de proteção animal locais.
Redatora e apresentadora do Canal Amo Meu Pet.
Com formação em Design de Produtos e especialização em Design de Interiores pela Universidade de Passo Fundo, a Ana encontrou sua verdadeira paixão ao unir criatividade, comunicação e o amor pelos animais.
Apaixonada por contar histórias que tocam o coração, ela estudou Escrita Criativa com o escritor Samer Agi e participa do programa JournalismAI Discovery, organizado pela Escola de Economia e Ciências Políticas de Londres e a Iniciativa de Notícias do Google, buscando se aprofundar no universo digital.
Hoje, dedica-se a produção de conteúdos que informam, emocionam, conscientizam e arrancam sorrisos.