Sem querer, mãe guaxinim deixa filhote perto de toca de raposas - a partir disso momentos de tensão iniciam
Por Larissa Soares em Mundo AnimalDan Ballard e Jane Hunter já estavam acostumados com surpresas no quintal em Austin, Texas, nos Estados Unidos. Como entusiastas da vida selvagem, eles instalam câmeras para registrar as visitas de animais que rondavam a propriedade.
Mas, em 2020, enquanto revisavam as imagens para seu canal Texas Backyard Wildlife, viram algo que os deixou de queixo caído.
“É a coisa mais estranha, mas mais incrível que já vimos aqui na câmera”, disse Ballard em um vídeo do The Dodo.
A cena mostrava uma mãe guaxinim caminhando pela mata com seu filhote. Como muitos guaxinins fazem, ela parecia buscar um local seguro para deixar o pequeno durante o dia, enquanto saía em busca de comida e água.
Depois de explorar um pouco, encontrou um toco de árvore oco. Para ela, parecia o esconderijo perfeito. Mas havia um detalhe que mudava tudo: aquele tronco não estava vazio.
“Isso é uma toca de raposa”, explicou Ballard. “A mamãe guaxinim pareceu achar que tinha encontrado uma creche para guaxinins.”
A surpresa
Logo após a mãe guaxinim sair, uma raposa adulta apareceu e se deparou com o filhote intruso.
A reação inicial foi sibilar, como quem avisa que não gostou nada daquela visita. Mas, surpreendentemente, não atacou.
O pequeno guaxinim desceu do tronco e se escondeu dentro da toca, justamente onde descansavam os filhotes de raposa.
'Novo pet'
Num primeiro momento, as raposinhas ficaram desconfiadas, mas se aproximaram devagar, farejando e observando.
E então veio o que ninguém esperava: ao invés de expulsá-lo, os filhotes decidiram tratá-lo como… um novo amigo.
“Depois de um tempo, parece que eles decidiram: ‘Nossa, acho que temos um bichinho de estimação’”, contou Ballard.
A cena era um tanto improvável, pois as raposas são predadoras naturais de guaxinins, especialmente dos filhotes. Um encontro desses poderia ter outro desfecho. Mas, naquela toca, a curiosidade falou mais alto do que o instinto.
O reencontro
Durante o dia, o guaxinim permaneceu quieto entre os novos “colegas de toca”. Mas, ao cair da noite, quando as raposas adultas descansavam, ele aproveitou a chance para fugir.
Pouco depois, as câmeras flagraram o reencontro com sua mãe. Juntos, os dois desapareceram na mata, ilesos.
“E viveram felizes para sempre”, resumiu Ballard, aliviado.
Raposas e guaxinins coexistem?
A cena chamou atenção justamente porque poderia ter acabado mal. De acordo com o portal Wildlife Removal, raposas se alimentam de pequenos mamíferos, como roedores e coelhos, além de frutas, vegetais e insetos.
Por serem quase do mesmo tamanho, uma raposa adulta pode, sim, atacar um guaxinim mais jovem ou frágil.
O curioso é que, apesar do potencial conflito, já foram registradas situações de convivência pacífica entre as duas espécies.
Um usuário do Reddit, por exemplo, compartilhou o vídeo de um guaxinim adulto e uma raposa vermelha caminhando juntos por uma escada, como se fossem parceiros de passeio.
“Eu me pergunto para onde eles foram no final”, comentou.
Essa tolerância ocasional se explica porque tanto raposas quanto guaxinins são onívoros oportunistas e com dietas bastante semelhantes.
Em outras palavras, ambos são especialistas em “se virar” para encher a barriguinha.
Raposas: oportunistas adaptáveis
Segundo o Cat Tales Wildlife Center, raposas comem tanto matéria vegetal quanto animal. Podem caçar pequenos mamíferos e aves, mas também aproveitam frutas, grãos e restos de comida. Em áreas urbanas, muitas vezes vasculham lixeiras ou comem ração de animais deixada ao ar livre.
Guaxinins: ainda mais oportunistas adaptáveis
Já os guaxinins, de acordo com a Critter Control, têm uma dieta ainda mais variada: comem desde nozes, frutos vermelhos e milho até insetos, peixes e ovos de aves. Também são oportunistas e não resistem a um quintal com comedouros ou lixeiras cheias. Seu olfato apurado e as patinhas sensíveis os ajudam a identificar rapidamente qualquer alimento disponível.
História curiosa
Esse não foi o único registro surpreendente da amizade improvável entre as espécies.
Um artigo de jornal japonês de 1993 relatou que, após o Festival Doburoku, um festival religioso em que saquê é oferecido aos deuses para uma colheita próspera, uma raposa e um guaxinim foram encontrados dormindo lado a lado na estrada, completamente embriagados depois de beberem saquê sagrado.
“Na manhã de 28 de abril de 1993, uma raposa e um cão-guaxinim foram encontrados dormindo lado a lado em uma estrada em Hirase, na vila de Shirakawa, após beberem duas xícaras de saquê sagrado para o Festival Doburoku. Depois de um dia inteiro, os dois acordaram da ressaca e cambalearam de volta para as montanhas, mas, naquele momento, Kosaka Gotoko, de Hirase, tirou esta foto”, diz a nota.
A cena inusitada foi publicada com a legenda “Korigori”, uma expressão que transmite a ideia de “ter uma experiência ruim/desagradável”, simbolizando a suposta ressaca dos animais.
Aparentemente, os guaxinins têm problemas com bebidas… Olha só:
Larissa é jornalista e escreve para o Amo Meu Pet desde 2023. Mora no Rio Grande do Sul, tem hobbies intermináveis e acha que todos os animais são fofos e abraçáveis. Ela se formou em Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e é “mãe” de duas gatas.