'Patinho feio da vida real': Cão husky que tinha aparência feia que o comparavam ao Chupacabra se transforma após ser amado
Por Beatriz Menezes em Aqueça o coração
Sob o sol implacável de Nassau, nas Bahamas, uma criatura magra e assustada buscava refúgio sob os carros de um estacionamento escolar.
Sua pele, devastada pela sarna, mal cobria os ossos, e o medo em seus olhos era um reflexo da crueldade que conhecia.
Para os estudantes que passavam, ele não era um cão, mas um monstro. O chamavam de 'Cujo' ou, mais frequentemente, de 'Chupacabra', uma zombaria que ecoava sua aparência desoladora.
Por quase dois anos, essa foi a realidade de Anatoli, um husky siberiano cuja história parecia destinada a terminar em silêncio e sofrimento, ignorado pela comunidade que o via todos os dias.
Sua rotina era de sobrevivência. Escondido, ele tentava escapar do calor da ilha e da atenção indesejada.
A indiferença era sua companhia constante. Um professor local confirmaria mais tarde que o cão vivia naquela área por um longo período, uma presença fantasmagórica que ninguém se propunha a ajudar.
Ele era uma parte da paisagem, um problema invisível que todos preferiam contornar.
Sua cabeça pendia para um lado, um sinal silencioso de um trauma passado, talvez um golpe ou um acidente, que apenas se somava à sua figura trágica.
A esperança surgiu na forma de uma publicação em redes sociais, que chegou aos olhos de Chella Phillips, fundadora e presidente da organização The Voiceless Dogs de Nassau.
A imagem daquele animal em sofrimento a impactou profundamente. No dia seguinte, Phillips foi até a escola secundária, equipada com uma armadilha e a determinação de mudar aquele destino.
Ela encontrou Anatoli exatamente onde as fotos mostravam, encolhido sob um veículo.
A captura, que poderia ter sido um processo longo e difícil com um animal traumatizado, foi surpreendentemente rápida.
Phillips sentiu que o cão sabia que aquela era sua última e única chance de escapar daquele lugar.
Confira:
O caminho para a recuperação começou na mesa de um veterinário. O diagnóstico confirmou a severa infestação de sarna e revelou a provável causa de sua cabeça inclinada.
Um antigo traumatismo craniano havia deixado sequelas permanentes. Com cerca de quatro anos de idade, Anatoli iniciou um tratamento intensivo com medicamentos e vacinas.
Ele também recebeu um banho muito necessário, um ato simples que simbolizou o início de sua nova vida. Por baixo da pele doente e da sujeira, uma pelagem branca e brilhante começou a aparecer, a primeira visão do belo husky que existia por dentro.
Contudo, as feridas físicas eram apenas parte da batalha. As cicatrizes emocionais eram muito mais profundas.
No abrigo, Anatoli estava petrificado. Ele era um cão fechado, aterrorizado pela proximidade humana. Cada tentativa de toque, cada palavra de conforto, era recebida com pavor.
Phillips e sua equipe entenderam que a confiança precisaria ser conquistada em pequenos passos.
Eles o tranquilizavam constantemente, repetindo que ele estava seguro, mas o husky não conseguia relaxar. O mundo, para ele, ainda era um lugar perigoso.
A verdadeira virada em seu processo de cura não veio de medicamentos, mas de latidos amigáveis e abanos de rabo.
Os outros cães resgatados no abrigo se tornaram seus terapeutas. Eles o acolheram sem julgamentos, o ensinaram a interagir e, o mais importante, a brincar.
Ao observar seus novos companheiros caninos interagindo com os humanos do abrigo sem medo, Anatoli começou a entender que talvez não precisasse mais se defender.
A equipe notou que ele os via ao redor dos cuidadores e parecia concluir que não havia nada a temer.
Bastaram alguns dias dessa imersão em um ambiente de compaixão e segurança para que seu medo começasse a se dissipar.
Anatoli começou a se abrir. O cão que antes se encolhia ao menor movimento, agora se deleitava com sua nova vida.
Ele passou várias semanas no abrigo de Phillips, e um sorriso parecia ter se instalado permanentemente em seu rosto.

Sua transformação era visível não apenas em sua pelagem que crescia saudável, mas em seu espírito que se reerguia.
Com a saúde restabelecida e pronto para o próximo capítulo, Phillips coordenou sua transferência para a Second Chance Rescue em Nova York, Estados Unidos.
A organização parceira teria mais recursos para encontrar o lar definitivo que ele tanto merecia. Após alguns testes adicionais para garantir que estava apto para a viagem, Anatoli deixou as Bahamas para trás.
Em Nova York, ele não apenas encontrou uma família, mas se tornou o que no mundo do resgate é carinhosamente chamado de "cão adotado fracassado", um termo para quando a família temporária se apaixona tanto que a adoção se torna permanente.
Cinco anos se passaram desde o resgate. As imagens atuais de Anatoli são irreconhecíveis.
O cão que era comparado a uma criatura mítica agora ostenta uma pelagem branca, fofa e impecavelmente cuidada.
Ele descansa em camas macias, explora parques com seus irmãos caninos e conhece a neve, uma experiência adequada para um husky siberiano.
A indiferença das pessoas que o magoou tanto no passado foi substituída por um amor e dedicação que preenchem todos os seus dias.
Anatoli, que um dia não significava nada para ninguém, agora é tudo para sua família.