“Não deixava ninguém tocar”: Adestrador abraça missão de treinar Chow Chow que não tomava banho há quatro anos
Por Larissa Soares em Cães
Há algumas semanas, o adestrador Derick recebeu no Centro de Treinamento Woof Dogs, em Porto Alegre/RS, uma missão desafiadora: um Chow Chow chamado Zulu que não tomava banho desde 2021.
Não por negligência, mas, simplesmente, porque ninguém conseguia.
Segundo o adestrador, Zulu era, sem exagero, o cachorro mais reativo que já havia passado pelo centro.
Não deixava ninguém tocar nele, reagia com agressividade ao menor contato e acumulava no corpo quatro anos de sujeira, nós e bolos de pelos completamente endurecidos.
“Mas com nós não tem isso aí do ‘cachorro não deixa’. Quem manda é nós”, brincou.
Antes de qualquer coisa, era preciso ambientar o cão. Zulu estava estressado, assustado e vinha de longos anos sem cuidados básicos.
“Se nós, que somos humanos, já ficamos estranhando um lugar novo, imagina um cachorro passando por uma situação dessas. Tava convivendo com uma craca há quatro anos no coro dele”, explicou Derick.
O início da transformação
No segundo dia de trabalho, a equipe já tentou iniciar o processo de remoção dos pelos embolados.
Sem condições de usar a máquina de tosa, Derick recorreu a uma simples tesourinha de primeiros socorros. O pelo, tão compacto e ressecado, parecia impossível de cortar.
Depois disso, veio a próxima etapa: tocar o cão.
Derick sabia que Zulu poderia reagir a qualquer momento. Para evitar mordidas, usou um pedaço de pau como extensão do braço.
“Era só porque eu não queria que ele mordesse minha mão caso ficasse muito louco. Eu ia tocando assim, mas ele até que ficou de boa”, contou.
O progresso ainda era pequeno, mas o Chow Chow começava, aos poucos, a permitir aproximação.
Um cão “sério” que precisava de paciência
De acordo com o American Kennel Club (AKC), o Chow Chow é conhecido por ser um cão reservado e até um pouco sério.
São cães musculosos, compactos e famosos pela juba de leão ao redor da cabeça, a língua azul-escura e a expressão “carrancuda”, graças aos olhos amendoados profundos.
Embora sejam limpos por natureza e raramente tenham cheiro forte, tanto o Chow Chow de pelagem áspera quanto o de pelagem lisa exigem escovações regulares e banhos mensais para manter a pele e pelos saudáveis.
A falta dessa manutenção pode levar exatamente ao que aconteceu com Zulu: nós duros, sujeira acumulada e desconforto intenso ao ser tocado.
Também são cães inteligentes, mas teimosos, e precisam de socialização precoce.
Métodos muito rígidos não funcionam com eles. Paciência e reforço positivo são o caminho.
Pelo tão duro que quebrou a escova
No terceiro dia, o adestrador resolveu dar um passo ousado: escovar o cão pela primeira vez.
No entanto, a missão durou pouco. “Quebrou a escovinha com esse pelo tão duro”, relatou.
Ainda assim, Derick não desistiu. “Eu sou ruim pras crianças. Já consertei e vamos dar-lhe, porque missão dada é missão cumprida.”
Entre escovadas e tentativas de cortar o pelo, Zulu começou a mostrar sinais de desconforto e deu algumas “olhadas estranhas”.
Para manter tudo seguro, o adestrador decidiu prender o cão a uma árvore com uma guia auxiliar.
A cada avanço, vinha um recuo. Zulu até tentou morder algumas vezes, especialmente quando Derick mexeu nas patas, considerada uma área sensível para a maioria dos cães.
Mas a rotina começava a surtir efeito: o pelo soltava, os nós diminuíam e, aos poucos, o cão permitia mais contato físico.
Por que não sedar? Por que não usar focinheira?
Alguns seguidores questionaram por que a equipe não sedava o cão, já que isso parecia facilitar o processo. A resposta surpreendeu:
“Ele já foi sedado diversas vezes. É idoso e já acordou no meio do corte várias vezes. Por isso ficou agressivo. O foco é adestrar esse cão para que ele possa ser tocado.”
A focinheira também foi descartada como solução principal.
O acessório deixava Zulu ainda mais estressado por causa da quantidade de pelo no rosto, além de reforçar um comportamento aprendido: sempre que mordia, as pessoas se afastavam. Impor a focinheira só reforçaria essa associação.
Derick optou por uma abordagem diferente: permitir que o cão mordesse um manguinho, aquele rolo usado como alvo.
Assim, Zulu conseguia extravasar o impulso sem machucar ninguém e, ao perceber que morder não fazia as pessoas pararem, descia um degrau na agressividade.
Essa escolha deu frutos:
“Olha ali, cadê a agressividade dele? O cachorrinho já sentou, eu mexendo na barriga dele, tirando um bolachão de pelo… Aí é para quem sabe.”
A grande virada
Na parte 4 da história, Zulu finalmente passou pela tosa completa e, enfim, pelo tão aguardado banho.
As imagens impressionaram os seguidores. Terra saía em quantidade, mesmo na segunda lavagem.
“A parte de tirar os pelos foi pior do que eu imaginava”, admitiu o adestrador. Mas cada minuto valeu a pena.
No final do banho, Zulu já permitia toques na barriga, no pescoço e até nas patas, que antes eram completamente intocáveis.
O cão que entrou feroz, desconfiado e coberto de crostas ganhou outra expressão. Parecia, enfim, confortável na própria pele.
“Para quem desacreditou, esse cachorro virou esse cãozinho fofinho. Com algumas falhas, é verdade, mas olha que coisa linda.”
E a história ainda não acabou
Derick promete que ainda há mais capítulos da transformação de Zulu e que, aos poucos, o Chow Chow aprende a confiar de novo.
Você pode acompanhar no TikTok (@adestraderick).
Larissa é jornalista e escreve para o Amo Meu Pet desde 2023. Mora no Rio Grande do Sul, tem hobbies intermináveis e acha que todos os animais são fofos e abraçáveis. Ela se formou em Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e é “mãe” de duas gatas.










