"Ela só existia para gerar filhotes": Após 3 anos sem liberdade, Duduca corre pela areia e vive o momento mais feliz
Por Beatriz Menezes em Aqueça o coraçãoA imagem de uma cachorrinha correndo livre pela areia e molhando as patas na água salgada pode parecer uma cena comum para muitos donos de animais de estimação.
Contudo, para Maria Eduarda, carinhosamente apelidada de Duduca, esse momento representa muito mais do que um simples passeio de fim de semana.
A história por trás do vídeo revela um passado difícil pois Duduca viveu cerca de três anos confinada dentro de um canil. Mas antes de ser resgatada e levada para o canil, ela viveu como matriz de reprodução.
Isso significa que sua função principal era gerar filhotes para a venda, muitas vezes sem o convívio social adequado, passeios ou o afeto que um animal de estimação costuma receber em um lar estruturado.
Essa realidade deixou marcas profundas no comportamento da cadela, que desenvolveu um medo intenso do mundo exterior e de sair de casa.
A mudança na trajetória de Duduca começou quando Ana Zollner e Bárbara Nogueira decidiram adotá-la.
As tutoras assumiram o compromisso de reabilitar a cachorrinha e oferecer uma vida digna longe das baias de reprodução. A adaptação à vida doméstica ocorreu de forma rápida dentro do apartamento, mas os traumas externos exigiram tempo e dedicação.
O passeio à praia foi planejado como um passo importante nesse processo de superação e socialização.
O registro do primeiro encontro da cadela com o mar viralizou nas redes sociais no final de outubro e trouxe à tona o debate sobre a realidade de animais utilizados para reprodução em massa e a capacidade de recuperação que o amor e a paciência podem proporcionar.
O vídeo publicado no perfil de Instagram da cachorrinha repercutiu e acabou sendo publicado por outros canais.
O original de 28 de outubro conta com 880 mil visualizações, 121 mil curtidas e 2.675 comentários.
“Nada me deixa mais feliz do que ver um bichinho feliz”.
“Todos os cachorros deveriam sentir esse amor”.
“Que cena mais linda... A felicidade dela não tem preço, que Deus abençoe grandemente a vida de vocês, e que vocês curtam muito essa pequena vitoriosa”
Assista o vídeo:
O papel das instituições na mudança de vidas
A adoção de Duduca foi intermediada pelo Adote Vi.Ca, um centro de adoção localizado nos Jardins, em São Paulo. A organização possui um modelo de atuação específico e busca esclarecer seu funcionamento ao público interessado em seguir o exemplo de Ana e Barbara.
O Adote Vi.Ca não atua como uma Organização Não Governamental (ONG). Trata-se de uma empresa privada que nasceu de um petshop convencional.
Os fundadores encontraram na adoção um propósito maior e decidiram transformar o negócio. O objetivo central é conectar animais resgatados por ONGs e protetores parceiros a famílias responsáveis.
Eles funcionam como uma ponte necessária entre o animal que precisa de um lar e a pessoa que deseja adotar.
Atualmente, o local é considerado o maior centro de adoção fixo do Brasil. A estrutura física permite preparar cães e gatos para a integração em novas famílias. O espaço conta com um gatil capaz de abrigar 60 felinos e um canil com 20 baias.
Essa capacidade operacional permite que a empresa realize cerca de 300 adoções todos os meses. Desde 2017, o projeto já viabilizou mais de 20 mil adoções e contribuiu significativamente para a redução do abandono animal.
A missão da empresa baseia-se na visão de que um mundo sustentável e com qualidade de vida depende da diminuição do número de animais nas ruas. Para manter os números de adoções em crescimento, o trabalho é sustentado pelos pilares do programa de adoção direta e de um clube de benefícios.
Como funciona o processo de adoção
O primeiro passo consiste em conhecer os animais disponíveis. Isso pode ser feito através do perfil da instituição no Instagram ou presencialmente na unidade dos Jardins.
A organização ressalta que não realiza reservas de animais. A prioridade é sempre de quem chega primeiro ao ponto de adoção e cumpre todos os requisitos.
Os candidatos devem ser maiores de 18 anos e precisam preencher um questionário de perfil. Esse documento serve de base para uma avaliação detalhada realizada pela equipe técnica.
O objetivo é alinhar as expectativas do adotante com as necessidades do animal escolhido. Após a aprovação na entrevista, é necessário apresentar um documento com foto e assinar o Termo de Adoção.
A leitura atenta desse documento é fundamental para compreender as responsabilidades legais e éticas da tutela.
“Fazemos esses protocolos para entregar os animais o mais saudáveis possíveis e ainda assim, com todos os nossos cuidados, existem doenças incubadas que se manifestam pós adoção por isso não garantimos a saúde dos mesmos.”, esclareceram no Instagram.
Existe uma estrutura de custos envolvida no processo. Como empresa privada que visa a sustentabilidade do projeto e a saúde dos animais, são cobradas taxas específicas.
A taxa de adoção é fixada em 550 reais. Esse valor cobre uma série de procedimentos médicos essenciais realizados antes da entrega do pet.
O pacote inclui testes rápidos para doenças como cinomose, parvovirose, coronavírus e giardia. No caso dos gatos, são realizados testes de FIV e FeLV. O animal também recebe vacinas, vermífugo, microchip de identificação e carteira de vacinação, além de passar por uma consulta veterinária.
A castração é um item obrigatório e seu custo é cobrado à parte. O valor varia de acordo com o peso, o sexo do animal e o tipo de anestesia escolhida pelo adotante.
Por normas do Código de Ética Veterinária, a instituição não divulga abertamente valores de consultas ou procedimentos cirúrgicos em materiais promocionais, mas os custos base para a castração no ato da adoção são informados aos interessados.
A castração com anestesia injetável custa 710 reais e inclui o certificado. Para quem opta pela anestesia inalatória, o valor é de 2.500 reais.
“Estamos 100% dentro das leis. Somos periodicamente fiscalizados pela vigilância sanitária, CRMV e polícia ambiental”.
Após a finalização dos trâmites burocráticos e financeiros, o tutor recebe o animal com um protocolo de saúde completo e orientações da equipe para os primeiros dias de adaptação.
