Cãozinho fiapo de manga que tinha desistido da vida ganha outra chance e vê tudo melhorar
Sawyer foi um verdadeiro guerreiro, aguentou até onde conseguiu e saiu de desacreditado para adotado.
Por Beatriz Menezes em Proteção Animal
À beira do colapso físico e emocional, um cachorro de pelos ásperos e olhar triste se deitou no meio de uma rua movimentada, exausto, faminto e sem forças para continuar.
A cena tocante, registrada em vídeo, mostra o animal deitado no asfalto enquanto carros passam perigosamente perto, quase o atingindo.
A publicação viralizou nas redes sociais e foi o primeiro passo para que esse cachorro, mais tarde chamado de Sawyer, tivesse sua vida transformada.
A ‘responsável’ pelo cão era Zully Vasquez Ventura, uma cuidadora independente e moradora de Cleveland, no Texas. Zully alimenta centenas de cães de rua em seu tempo livre e conhece bem a dura realidade da região.
Sawyer era apenas um entre muitos cães soltos na mesma rua. Isso porque o condado onde vivem não possui abrigo público, não conta com leis de uso obrigatório de coleira, nem com controle de natalidade animal.
Não há fiscalização de criadores, nem obrigatoriedade de castração. Animais de estimação circulam livremente e muitos acabam abandonados, feridos ou simplesmente ignorados.
Então quando o cão foi filmado deitado no meio da rua publicação chegou até Laura Forma, fundadora da organização de resgate ThisIsHouston, especializada em acolher cães em estado grave.
No dia seguinte, a voluntária Tara Hall e protetora experiente, foi até o local para resgatar Sawyer. Apesar de assustado, ele permitiu o resgate e foi levado diretamente ao Hospital Veterinário Cypress Fairhaven.
Os exames clínicos revelaram diversas complicações como infecções nas orelhas, um abscesso na pata dianteira e fraturas antigas nas duas patas traseiras. Uma delas cicatrizou de forma anormal, provocando uma marcha irregular.
Inicialmente, a amputação foi cogitada. Mas, mesmo debilitado, Sawyer surpreendeu os cuidadores ao demonstrar agilidade, força e um comportamento surpreendentemente amoroso.
“Ele sobe e desce escadas, pula no sofá, brinca com os outros cães e nunca teve acidentes dentro do canil. É como se já tivesse vivido em uma casa”, relatou Tara.
O comportamento indicava que o cão provavelmente já havia tido uma família antes de ser descartado.
Foi nesse momento que Bobbie Nolen, moradora de Austin, se deparou com os vídeos e fotos do cão.
Ela não teve dúvidas: “Esse é o meu cachorro. Vou fazer o que puder para adotá-lo.”
Após preencher a solicitação de adoção, Bobbie dirigiu até Houston e foi recebida por Sawyer com um pulo no colo. A conexão foi imediata.
Enquanto os cuidados médicos eram finalizados, Sawyer permaneceu com Tara por mais três semanas. Nesse período, a organização reforçou um apelo importante: se mais pessoas aceitassem ser lares temporários, como Tara, mais cães como Sawyer poderiam ser salvos.
“Fomentar é a única forma de darmos uma chance real a esses animais. Há muitos como ele, sofrendo nas ruas, e o que falta é espaço e acolhimento”, destacou a equipe da ThisIsHouston.
Em 13 de julho, Bobbie finalmente levou Sawyer para casa. Agora chamado de Walter, o cachorro tem brinquedos, alimentação saudável e muito afeto.
Ainda mostra traços de insegurança, como quando tenta pegar comida escondido do pote, como se ainda estivesse lutando por sobrevivência. Mas, aos poucos, tem descoberto que está seguro, amado e em casa.
“Ele comeu sua primeira tigela de comida caseira ontem, com frutas frescas e vegetais. Vai ter uma vida muito boa”, disse Bobbie ao The Dodo.
Para ela, Walter é mais do que um cachorro. É a prova viva de que o amor pode transformar destinos.
De onde vêm os cães e gatos que vemos nas ruas?
Todos os dias, cruzamos com cães e gatos pelas calçadas, praças e esquinas das cidades brasileiras.
Alguns estão acompanhados de seus tutores, passeando de coleira, enquanto outros circulam livremente, como parte da paisagem urbana. Mas, infelizmente, muitos desses animais vivem nas ruas não por escolha, mas porque foram descartados.
Segundo o Instituto Ampara Animal o mais alarmante é que grande parte deles não nasceu nas ruas, mas sim dentro de lares, sendo posteriormente abandonados à própria sorte.
Em diversas regiões, especialmente nas periferias e em locais onde faltam políticas públicas de controle populacional, a maior parte dos cães e gatos de rua é composta por animais abandonados ou seus descendentes.
Sem castração, muitos acabam se reproduzindo descontroladamente, alimentando um ciclo cruel de nascimento, sofrimento e morte.
Estudos indicam que entre 60% e 70% dos filhotes que nascem nas ruas morrem antes de completar seis meses de vida.
São vítimas de fome, doenças infecciosas, atropelamentos, envenenamentos e infecções graves causadas por sarnas, bicheiras ou feridas expostas.
Apesar de alguns encontrarem ajuda por meio de protetores independentes e comunidades empáticas inclusive reconhecidas por lei como guardiãs de “animais comunitários”, muitos ainda enfrentam maus-tratos severos.
O cenário se agrava quando analisamos o abandono como reflexo direto da ausência de guarda responsável.

Comprar ou adotar por impulso,negligenciar castrações e ignorar os cuidados básicos são atitudes que resultam, inevitavelmente, em mais animais vulneráveis nas ruas.
Deixar uma fêmea prenhe à própria sorte, por exemplo, é uma prática recorrente, e não raro as ninhadas são simplesmente descartadas em locais públicos.
No Brasil, segundo dados do IBGE divulgados em 2019, 46,1% dos domicílios possuem pelo menos um cão, o equivalente a mais de 33 milhões de lares.
A estimativa aponta para uma população de 54,2 milhões de cães e 23,9 milhões de gatos com tutores. Porém, o número de animais abandonados não é oficialmente monitorado.
Estima-se que mais de 30 milhões de cães e gatos vivam nas ruas em condições precárias.
Para mudar essa realidade, é preciso mais do que solidariedade pontual. É necessário adotar uma postura ativa e coletiva.

Cuidar, denunciar maus-tratos, ajudar organizações que resgatam animais e promover a educação sobre guarda responsável são atitudes que fazem a diferença.
Afinal, os animais são seres vivos, sencientes, e protegidos por lei. Abandono é crime e combatê-lo é dever de todos nós.
As informações são de Rosangela Gebara, médica-veterinária e gerente de projetos do Instituto Ampara Animal, referência nacional em proteção e bem-estar animal.
Assista abaixo: