“Se tornou os olhos de Miguel”: Golden começa a usar o corpo para guiar e proteger menino cego, e mãe se emociona

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A relação entre humanos e animais muitas vezes ultrapassa a simples convivência e alcança níveis de conexão que surpreendem especialistas e observadores.

No Rio de Janeiro, um exemplo dessa ligação profunda acontece diariamente na rotina da família Tavares Oliveira. Billy, um golden retriever, assumiu espontaneamente a função de guardião físico de Miguel, um menino de 5 anos diagnosticado com cegueira completa ainda bebê.

O comportamento do animal chama a atenção pela forma como ele utiliza o próprio corpo para criar barreiras de proteção e guiar a criança.

Os registros dessa convivência viralizaram na internet e acumulam mais de 300 mil visualizações em perfis como Instagram e Tik Tok. Nas imagens compartilhadas pela família, é possível observar que Billy não apenas acompanha Miguel.

O cão se adianta aos movimentos do menino e se posiciona estrategicamente à frente dele. O objetivo do animal parece claro para quem assiste.

Ele busca sinalizar limites e impedir que o garoto esbarre em obstáculos ou avance para áreas perigosas durante as brincadeiras, inclusive quando há uma bola envolvida.

Essa dinâmica de proteção ocorre sem que Billy tenha passado por treinamentos formais de cão-guia. A atitude faz parte de um instinto de cuidado desenvolvido na convivência diária dentro do apartamento onde moram no Rio de Janeiro.

O animal permanece ao lado de Miguel na maior parte do tempo e dorme no mesmo quarto, ao lado da cama do menino. A família relata que o cachorro age como se compreendesse a condição visual de Miguel e a necessidade de oferecer um suporte físico constante para a segurança dele.

O diagnóstico e o impacto na família

De acordo com a Revista Crescer a história de Miguel começa em 9 de setembro de 2020. Durante a gestação, os exames de pré-natal não indicaram nenhuma alteração na saúde do bebê.

O nascimento ocorreu sem intercorrências aparentes, mas a percepção de que algo estava diferente surgiu nos primeiros dias de vida. Maria Luiza, mãe de Miguel, notou a falta de interação visual do filho.

O bebê não fixava o olhar nem reagia a estímulos luminosos ou movimentos próximos ao rosto, o que motivou os pais a questionarem a pediatra.

O alerta materno desencadeou uma investigação médica que durou meses. A família passou por uma série de consultas com neurologistas e oftalmologistas em busca de respostas.

A confirmação do quadro clínico veio quando Miguel completou sete meses de vida. O diagnóstico foi de hipoplasia do nervo óptico bilateral.

A hipoplasia do nervo óptico é uma condição congênita caracterizada pelo subdesenvolvimento do nervo óptico. As fibras nervosas da retina, responsáveis por transmitir os sinais visuais do olho para o cérebro, são pequenas ou insuficientes.

Isso impede a formação da imagem e resulta, na maioria dos casos severos como o de Miguel, na cegueira total. A Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica informa que a causa específica dessa má formação raramente é identificada.

O impacto da notícia sobre a família foi devastador. Maria Luiza descreve o momento como a vivência de um luto.

A sensação de perda e a falta de perspectivas iniciais deixaram os pais sem chão. Durante o primeiro mês após o diagnóstico definitivo, o casal se isolou socialmente e encontrou dificuldades até mesmo para conversar entre si sobre o assunto.

O silêncio imperou enquanto eles tentavam processar a nova realidade do filho.

Assista:

A busca por alternativas e o tratamento na Ásia

Passado o choque inicial, o luto deu lugar à ação. Os pais de Miguel iniciaram uma pesquisa extensa sobre a hipoplasia do nervo óptico para entender como poderiam proporcionar a melhor qualidade de vida possível para a criança.

A virada de chave aconteceu em 2023, durante uma das buscas por informações na internet. O pai de Miguel encontrou uma entrevista sobre uma garota brasileira chamada Duda, que possuía o mesmo diagnóstico e estava em processo de tratamento na Tailândia.

A família conseguiu estabelecer contato com a mãe de Duda, que forneceu detalhes sobre o hospital e os procedimentos realizados no país asiático. A possibilidade de um tratamento regenerativo reacendeu a esperança dos pais.

O planejamento financeiro e logístico começou imediatamente, com o objetivo de levar Miguel para a Ásia.

Em fevereiro de 2025, a família embarcou para a Tailândia, o protocolo médico adotado envolveu o uso de células-tronco. A premissa do tratamento é auxiliar na regeneração ou no fortalecimento das conexões do nervo óptico subdesenvolvido.

Miguel recebeu um total de oito bolsas contendo milhões de células. A aplicação do material biológico foi realizada por meio de punção lombar e também por via intravenosa.

Confira:

Resultados clínicos e novas percepções

A resposta do organismo de Miguel ao tratamento surpreendeu a equipe médica e a família. Ainda na primeira semana de aplicações, os médicos constataram que o menino começava a apresentar reações à luz.

A família retornou ao Brasil no início de março de 2025, após 18 dias de internação e procedimentos. A evolução visual continuou nos meses seguintes, uma vez que o tratamento com células-tronco possui ação de longo prazo e os resultados podem surgir ao longo de seis meses ou mais.

Atualmente, Miguel consegue identificar a presença do sol, perceber sombras e notar a luz ambiente. A mãe descreve que ele já começa a distinguir vultos, o que representa um avanço significativo para quem tinha um diagnóstico de cegueira total. Cada pequena conquista é celebrada pelos pais como uma vitória emocionante.

O planejamento de longo prazo já inclui um retorno à Tailândia previsto para 2026, para uma possível nova rodada de aplicações de células-tronco.

A expectativa não é necessariamente a recuperação de 100% da visão, mas sim a ampliação do campo visual e da autonomia de Miguel.

Enquanto a ciência e a medicina fazem a sua parte, Billy continua a desempenhar seu papel fundamental em casa.

O golden retriever segue firme em sua vigília. Ele permanece ao lado de Miguel durante as terapias, nas brincadeiras e no descanso.

A presença do animal oferece a segurança emocional e física necessária para que o menino continue explorando esse novo mundo de luzes e sombras que começa a se revelar.

Beatriz é jornalista formada pela Universidade de Passo Fundo, com especialização em Escrita Criativa e Editoração pela Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera. Apaixonada por narrativas envolventes e pelo universo pet, ela também possui certificação em Storytelling para Marketing Digital pela Santander Open Academy, o que complementa sua habilidade de transformar histórias reais em conteúdos informativos e inspiradores. Dedica-se à produção de reportagens que valorizam a convivência ética e afetiva entre humanos e animais de estimação, promovendo empatia, informação de qualidade e o respeito aos animais.