Esposa flagra como está o marido que não queria dar lar temporário para cachorrinha resgatada e cena encanta
Por Beatriz Menezes em Aqueça o coração
A cena, registrada em vídeo, é de pura devoção: um homem caminha e carrega em seus braços uma cachorrinha idosa. Ela, visivelmente cansada, repousa a cabeça confortavelmente, segura no colo de seu tutor.
Para os mais de quatro mil seguidores do perfil @neguinha.preta no Instagram, o vídeo postado em 25 de outubro é um registro afetuoso. Contudo, para Keury Kuroda, a esposa que filmou o momento, o gesto tem um significado muito mais profundo.
Aquela cena, que hoje transborda cuidado, era quase improvável há alguns anos. O homem que mima a cadela, Tiago Souza, é o mesmo que um dia resistiu à sua chegada.
O vídeo flagrado por Keury em Niterói (RJ) captura a essência de uma transformação. A família estava em um passeio quando Neguinha, hoje com 14 anos, deu sinais de cansaço. Tiago, sem pensar duas vezes, a pegou no colo a naturalidade do ato contrasta diretamente com a memória de 16 de setembro de 2018, o dia em que a vida de Neguinha mudou.
O Resgate que Virou Salvação Mútua
Diferente do que se imagina, Keury não saiu para resgatar um animal específico. Ela, que sempre amou animais, viu um pedido de ajuda no Facebook.
"O resgate dela foi feito por um projeto que eu ajudava sempre que podia, que se chamava 'Ajuda Animal Ilha'", explicou Keury em entrevista ao Amo Meu Pet.
A responsável pelo projeto, Nathalia Lemos, estava retirando animais de um acumulador que os vendia.
"A Neguinha foi uma das últimas que ele deixou levarem, pois ele usava ela como matriz [para reprodução]".
Ao ver a foto de Neguinha e o pedido de lares temporários, Keury sentiu um chamado.
"Eu só senti que precisava ajudar. Independente de quais deles viria para mim", conta.
A decisão de trazer um novo animal para casa, no entanto, gerou hesitação no marido, Tiago. As responsabilidades e a adaptação eram pontos de preocupação. Mas havia outra motivação para Keury:
"Cresci tendo pet. Porém, meu filho é alérgico a gato. Quando vi o pedido de socorro dela, vi ali uma oportunidade do meu filho ter contato com o amor mais puro".
A dor que o amor curou
O que não estava visível no pedido de resgate era o momento pessoal de Keury. A chegada de Neguinha aconteceu em uma das semanas mais difíceis de sua vida. O "resgate", na verdade, foi uma via de mão dupla.
"Para resumir no final disso tudo quem me salvou foi ela", confessa Keury. "Na semana que ela foi resgatada, que foi dia 16/09/2018, eu havia sofrido um aborto e estava só o pó."
O foco mudou. A dor do luto deu espaço à missão de curar a nova integrante da família. "Ela tava precisando tanto de mim que me fez sair do fundo do poço e focar só nela. Deus traçou nossos caminhos", refletiu.
Confira o vídeo:
O trauma da vassoura
Neguinha trouxe consigo um passado de traumas visíveis. A cachorrinha demonstrava um medo paralisante de vassouras. A simples presença do objeto fazia com que ela se encolhesse, uma reação que partiu o coração de Keury, indicando prováveis agressões.
A família iniciou um delicado trabalho de dessensibilização. Keury pegava a vassoura com uma mão e, com a outra, fazia carinho em Neguinha, reescrevendo a associação do objeto. O esforço diário funcionou. "Hoje em dia ela entendeu que a vassoura só serve para limpar o chão", escreveu a tutora.
De lar temporário para "para sempre"
Enquanto Neguinha aprendia a confiar, a dinâmica da casa mudava. A resistência de Tiago foi se dissolvendo, mas o plano inicial ainda era de um lar temporário.
"Sim, até então seria só lar temporário. Cuidar dela e deixar ela bem para poder ser adotada", relembra Keury.
A prova de fogo veio em dezembro daquele ano. Keury precisou viajar e, como combinado, "devolveu" Neguinha ao projeto. O que aconteceu em seguida selou o destino da família.
"Quando retornei, me informaram que ela estava regredindo e sem comer. Muito triste. Aquilo acabou comigo. E conversando com meu esposo, decidimos que ela já havia nos escolhido. E que seria pra sempre."
Hoje, Neguinha é a única pet da casa, uma decisão tomada para respeitar seus traumas. Keury conta que tentou abrigar outro cão, Mantega, mas Neguinha sentiu muito medo.
"Ela ficou até sem fazer cocô de medo. E como eu prometi a ela quando decidi adotá-la que ela seria nossa prioridade, vi que aquele momento era que essa promessa precisava ser cumprida".
A publicação de Keury confirma a jornada: "Porém... aqui estamos indo para 7 anos de muito amor envolvido". O homem que temia a responsabilidade de um lar temporário é o mesmo que hoje carrega a cachorrinha no colo para que ela não se canse, provando que o resgate, no fim, foi de todos.
CURIOSIDADE: O que são "canis de fundo de quintal"?
A história de Neguinha, que era usada como "matriz" por um acumulador, é um exemplo de um problema grave e comum: os chamados "canis de fundo de quintal".
Segundo o Tudo Sobre Cachorros, nesses locais, as cadelas são exploradas e forçadas a cruzar repetidamente em todos os cios, com o único objetivo de gerar lucro rápido para os exploradores.
- As Vítimas: As cadelas (matrizes) sofrem abusos e, quando não podem mais gerar filhotes devido à idade ou problemas de saúde, são frequentemente doadas ou abandonadas.
- Os Filhotes: Os filhotes gerados dessa exploração são vendidos para pessoas leigas, muitas vezes pela internet. Esses cães podem vir doentes, com problemas genéticos e desvios de comportamento, pois não há qualquer controle ou cuidado com a criação.
O centro Battersea Dogs and Cats Home, de Londres, inclusive, criou a campanha “Pelo fim dos criadores de fundo de quintal”, lutando pela proibição da venda de filhotes com menos de 8 semanas e pela exigência de licenças para quem produz mais de duas ninhadas por ano.
Como evitar:
Para uma compra consciente e para não fomentar esse mercado:
- Não compre filhotes online.
- Visite o local (no mínimo duas vezes) para conhecer o ambiente e os pais dos filhotes.
- Faça perguntas: o criador deve saber responder tudo sobre os filhotes e seus pais.









