Cão spitz que se arrumou de gravatinha para ser adotado é devolvido e motivo entristece protetora
Por Larissa Soares em Proteção Animal
Rael é um spitz alemão de quatro anos que, mesmo depois de um passado difícil, acreditava ter finalmente encontrado um lar.
Usado por anos para reprodução, ele foi resgatado por voluntários da Dog Focinho, uma organização de São Paulo que atua no acolhimento e adoção responsável de cães, em sua maioria, vítimas de maus-tratos ou abandono.
Assim como tantos outros cães acolhidos pela instituição, Rael chegou com traumas, mas foi acolhido, tratado e preparado para ganhar uma nova chance.
O processo de adoção da Dog Focinho é criterioso: questionário, checagem de informações, exigência de documentos reconhecidos em cartório, taxa de adoção e nada de feiras de adoção para animais resgatados.
Mesmo assim, nem sempre é possível prever o desfecho.
No fim de outubro do ano passado, Rael foi adotado. De gravatinha e tudo, partiu feliz para o que acreditava ser sua nova casa definitiva.
Viveu por oito meses com a tutora, que o acolheu em um momento em que tudo parecia bem. Mas, quando a situação virou, foi justamente Rael quem saiu de cena primeiro.
“Venho com uma notícia triste. Infelizmente estou separando e mudando, por isso precisarei devolver o Rael”, escreveu a tutora, em mensagem compartilhada pela ONG. “Tenho cinco dias para resolver”, completou, como se fosse uma questão meramente logística.
A reação dos protetores foi de frustração: “Ao invés de fazer um textão dizendo que o Rael foi devolvido depois de oito MESES de adoção, é só arrastar e ver o motivo.”
A publicação rapidamente viralizou e causou revolta entre os seguidores.
“Se fosse uma criança, seria devolvida pra quem? É cada desculpa esfarrapada… Que venha uma família tão linda quanto ele é”, escreveu um.
“Como pode descartar um filho? Tem gente que tem cachorro por impulso, não por amor”, disse outro.
“Eu me separei e quem ficou comigo foi meu cachorro. Não largo jamais!”, comentou uma internauta.
Felizmente, Rael não precisou esperar muito por um recomeço. Poucas horas após o desabafo, a Dog Focinho compartilhou que ele já havia sido adotado novamente.
Mas a história serve como alerta sobre os impactos emocionais do abandono, mesmo quando disfarçado de devolução.
O trauma do abandono
Segundo a organização Friends of the Animal Shelter (FOTAS), a devolução de um animal de estimação pode ser uma experiência profundamente traumática.
Cães e gatos formam vínculos afetivos com seus tutores e, quando são deixados em abrigos, muitos entram em um estado de ‘desligamento emocional’.
Alguns não permitem mais o toque de humanos, tornam-se agressivos ou apáticos e passam semanas sem demonstrar qualquer traço da personalidade alegre que tinham em casa.
“É, para muitos, o pior dia da vida deles”, afirma a organização.
A mudança brusca de ambiente, pessoas, cheiros, rotina e segurança, é avassaladora.
Mesmo os animais mais dóceis podem apresentar comportamento retraído ou depressivo após serem entregues de volta a um abrigo.
E não é só uma questão de sensibilidade. Há estudos que mostram que o estresse provocado pela separação pode impactar a saúde física e mental dos pets.
Eles não entendem que o tutor estava em uma situação difícil. Só percebem que foram deixados para trás.
Devolver é sempre a última alternativa
É claro que há casos em que a devolução se torna inevitável. Questões econômicas, emergências de saúde ou até a morte do tutor podem realmente impedir que um animal permaneça no lar.
Ainda assim, segundo o FOTAS, é essencial que os tutores compreendam o peso emocional que essa decisão carrega.
E que só deve ser tomada após esgotadas todas as alternativas, como buscar apoio com amigos, familiares ou organizações.
Rael teve sorte. Mesmo depois da decepção, encontrou rapidamente um novo lar. Mas nem todos os animais têm o mesmo desfecho feliz.
Larissa é jornalista e escreve para o Amo Meu Pet desde 2023. Mora no Rio Grande do Sul, tem hobbies intermináveis e acha que todos os animais são fofos e abraçáveis. Ela se formou em Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e é “mãe” de duas gatas.