Após situação triste ocorrida na rua, cachorrinha Julieta fica traumatizada e tutora se esforça para que ela volte a ser feliz
Por Larissa Soares em Proteção Animal
Em San Vicente de Tagua Tagua, no Chile, um episódio de violência contra animais comoveu toda a comunidade em 2023 e transformou para sempre a vida de uma cachorrinha.
Violeta, como era chamada pelos moradores, vivia nas ruas e foi cruelmente apedrejada por agressores em plena praça da cidade.
O ataque chocou moradores e provocou uma onda de indignação que mobilizou a ONG Fundación Aperrando e a sociedade civil em torno de sua recuperação.
Violeta, que já havia enfrentado o abandono, fome, frio e até um atropelamento que causou uma fratura dupla, foi resgatada pela organização. Sua história viralizou e rapidamente sensibilizou pessoas dispostas a ajudá-la.
Recuperação
Após ser atendida em duas clínicas veterinárias, ela passou por cirurgia e iniciou um longo processo de reabilitação física e emocional.
Apesar da dor, a cachorrinha surpreendeu a todos com sua força. Poucos dias após o procedimento, já demonstrava sinais de alegria e disposição. Um post da ONG em 29 de agosto descrevia seu progresso:
“Ela acordou bem, como muitos outros, aproveitando o sol da manhã… ela aproveitou uma deliciosa lata de comida e nós a mimamos por um tempo... Obrigada a todos que perguntam sobre ela todos os dias”.
De Violeta a Julieta: um novo nome, um novo começo
Em outubro de 2023, um novo capítulo na história da cadelinha começou. A veterinária Dra. Valentina Schnitzer, profundamente tocada pelo caso, decidiu adotá-la. E com a nova casa, veio também um novo nome: Julieta.
Desde então, o que antes era uma história de sobrevivência se tornou uma trajetória de amor, dedicação e esperança.
Em um vídeo recente, Valentina compartilhou a evolução da cadela e os desafios que seguem presentes:
“Embora não viva mais o horror de seu passado, as sequelas ainda persistem. Esse trauma se manifesta na reatividade, na ansiedade e na dificuldade de confiar”.
A tutora destaca que Julieta é, hoje, parte da matilha. Mas, como muitos cães vítimas de maus-tratos, carrega cicatrizes invisíveis que afetam seu comportamento e confiança.
“Mas ela não está sozinha. Está em tratamento, acompanhada com paciência, amor e respeito. A cura leva tempo e estamos aqui para lhe dar todo o tempo que ela precisar”.
Processo de cura
Casos como o de Julieta exigem mais do que cuidados veterinários tradicionais.
Segundo especialistas da Humane World for Animals, o tratamento de animais traumatizados deve se basear em uma abordagem centrada no respeito ao tempo e aos sinais do animal.
Para Audra Houghton, diretora de operações da Equipe de Resgate Animal, e Sheila Segurson, diretora de pesquisa do Maddie’s Fund, reconhecer o impacto imprevisível do trauma é o primeiro passo.
“Muitos desses animais vivem em um estado constante de luta ou fuga. O importante é criar um ambiente onde eles se sintam seguros e possam, aos poucos, reconstruir sua confiança”, explica Houghton.
Esse processo exige sensibilidade por parte dos tutores. Em vez de insistir em interações forçadas, a recomendação é observar atentamente a linguagem corporal do animal e perguntar: “O que ele está me pedindo?”.
Isso inclui respeitar momentos em que o cão não quer contato, e evitar ações que possam ser interpretadas como ameaças, por mais rotineiras que pareçam, como dar banho, cortar unhas ou pegá-lo no colo.
“Estamos acostumados com a ideia de que um desconforto temporário é aceitável se o resultado for positivo. Mas, às vezes, isso pode gerar um novo trauma. O bem-estar emocional do animal é tão importante quanto seu bem-estar físico”, completa Segurson.
O poder da escuta e da presença
A história de Julieta é um exemplo dessa abordagem em ação. Sua tutora, Valentina, tem se dedicado a criar um ambiente de escuta, acolhimento e cuidado contínuo, mesmo diante dos desafios.
“Ela também me ensina todos os dias. Ela é um lembrete de que muitos animais carregam cicatrizes que não podemos ver. E que o amor verdadeiro respeita o tempo do outro”, afirma.
A ONG Fundación Aperrando, que acompanhou de perto todo o processo, agradeceu publicamente a nova tutora:
“Seu interesse em ajudá-la a seguir em frente foi super genuíno. Mesmo à distância, você perguntava todos os dias sobre sua recuperação. Ela tem a vida que merece”.
Hoje, Julieta vive cercada de amor, respeito e segurança, ingredientes essenciais na construção de um novo futuro para cães resgatados de situações de violência.
Seu passado, marcado pela crueldade humana, não será esquecido. Mas é o presente, cheio de cuidado e amor, que define quem ela está se tornando.
Larissa é jornalista e escreve para o Amo Meu Pet desde 2023. Mora no Rio Grande do Sul, tem hobbies intermináveis e acha que todos os animais são fofos e abraçáveis. Ela se formou em Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e é “mãe” de duas gatas.