Mesmo tendo motivos para não confiar mais em humanos, cachorrinha é 'eleita' a pet mais feliz de abrigo e espera pela família perfeita
Por Beatriz Menezes em Cães
Pandora é uma cadelinha que, mesmo após ter sido rejeitada pelo antigo tutor, ganhou notoriedade como a pet mais sorridente de um abrigo localizado no litoral de São Paulo.
O vídeo divulgado pelo Hyppet em 17 de setembro mostrou como, mesmo sem nunca ter tido uma família responsável, ela abre um largo sorriso sempre que encontra um humano.
Agora, depois de dez meses de espera, ela aguarda pela chance de conquistar o que nunca teve: um lar definitivo e amoroso que zela pela segurança dela.
O Amo Meu Pet conversou com Adriana Silva, responsável pelo resgate e cuidadora de Pandora. Ela contou que o caso aconteceu em 2024, na Praia Grande.
A cadela foi encontrada muito debilitada, com doença do carrapato. Durante a busca pelo tutor, a resposta recebida foi de recusa e deixou a protetora chocada.
Segundo Adriana, o homem afirmou que não queria mais a cadela e que poderia ser descartada.
A rejeição marcou o início de uma nova fase na vida de Pandora. Resgatada quase sem forças, passou por tratamento e recuperou a saúde. Hoje, com cerca de três anos, já está vacinada e castrada.
Sua pelagem castanha, que voltou a crescer após os cuidados, contrasta com a alegria que demonstra quando recebe atenção. Ainda assim, o tempo no abrigo tem sido longo e a falta de convívio fora dele começa a pesar.
Adriana explicou que, durante os dez meses de espera, apenas uma pessoa demonstrou interesse, mas a adoção não foi adiante. Pandora não se adapta bem à convivência com outros cães.

A responsável relatou que ela sente ciúmes de humanos e disputa espaço e comida, o que pode gerar conflitos. Por esse motivo, a recomendação é que seja filha única em um novo lar, a não ser que a família esteja disposta a investir em adestramento.
Apesar das dificuldades com outros animais, com pessoas, Pandora se mostra carinhosa e receptiva. Adriana destacou que sua personalidade é marcada pela afeição.
“Ela é muito amorosa com humanos. Sempre que alguém se aproxima, sorri e busca contato”, disse.

Atualmente, a protetora cuida de 15 animais resgatados. No lar temporário onde alguns deles ficam, Pandora precisa ser mantida em baia separada justamente por conta dos episódios de ciúmes.
A realidade mostra como a adoção de animais que apresentam desafios comportamentais exige responsabilidade e paciência, mas também pode ser transformadora tanto para o pet quanto para a família que o acolhe.
Sobre o processo de adoção responsável, Adriana explicou que os interessados passam por um questionário e uma entrevista conduzida por ela.
“Eu mesma faço a triagem pelo WhatsApp para entender o perfil do adotante e se realmente existe condição de receber o animal”, relatou.
A história de Pandora ganhou visibilidade por meio do Hyppet, plataforma dedicada a conectar protetores, abrigos e futuros adotantes. Segundo Adriana, esta não foi a primeira vez que ela recorreu ao canal.
“Já divulguei uns nove animais pelo Hyppet. É uma forma de ampliar o alcance e aumentar as chances de adoção”, contou.
O vídeo de Pandora tem 21 mil visualizações, 3 mil curtidas e 321 comentários.
“Meu coração partiu ao ver Pandora voltar para o abrigo.”
“Pandora, com sua cor chocolate, vai adoçar a vida de uma família muito especial que irá adotá-la! Não tem como não se apaixonar!”.
“Ela é muito linda, senti a energia boa dela daqui.”
Confira abaixo:
O caso da cadelinha reflete a realidade de milhares de animais abandonados no Brasil. Muitos foram vítimas de maus-tratos, negligência ou rejeição.
Para além da sensibilização, a divulgação busca lembrar a importância da adoção responsável, que vai além do ato de resgatar e envolve acompanhamento, estrutura e compromisso de longo prazo.
Quem tiver interesse em adotar Pandora deve entrar em contato diretamente com Adriana Silva, responsável pelo resgate.
O processo é criterioso, com entrevista e avaliação, a fim de garantir que a cadelinha finalmente tenha a estabilidade que tanto precisa.
Pandora espera pela família que irá transformar sua história e provar que, apesar das marcas do passado, sempre existe a chance de um recomeço.
Abandono animal ainda é desafio no Brasil, aponta relatório do IMVC
De acordo com o Instituto de Medicina Veterinária do Coletivo (IMVC), que integra o Índice de Abandono Animal no Brasil, o país possui cerca de 121,3 milhões de cães e gatos, sendo 82,1 milhões de cães e 39,2 milhões de gatos.
O relatório revela que 30,2 milhões desses animais vivem em situação de abandono, o que representa 25% do total da população de pets.
Ainda segundo o estudo, aproximadamente 185 mil cães e gatos vivem em abrigos, mas a escassez de dados confiáveis dificulta compreender com precisão a dimensão do problema no país.
O levantamento, realizado entre 2022 e 2023, analisou dados de diferentes fontes internacionais e nacionais e ouviu tutores e não tutores de animais de estimação.
O foco da pesquisa foi compreender as principais causas do abandono e propor soluções para reduzir esse número, como a ampliação de programas de castração, a conscientização sobre guarda responsável e o incentivo à adoção em abrigos.
Apesar de mostrar avanços, o relatório também destaca entraves.
Entre os entrevistados, 11% dos tutores de cães e 13% dos tutores de gatos afirmaram considerar doar seus animais nos próximos 12 meses, citando falta de tempo, mudança, custos elevados ou comportamento inadequado como principais razões.
Os dados reforçam a importância de políticas públicas eficazes e de campanhas de conscientização para reduzir o abandono e melhorar a qualidade de vida dos animais de estimação no Brasil.