Cafeteria é criticada por deixar clientes abraçar filhotes de leões - e felinos não são os únicos selvagens lá
Por Larissa Soares em Mundo Animal
Na cidade de Taiyuan, na China, um restaurante de alto padrão virou o centro de uma grande controvérsia internacional.
A Wanhui Tower, conhecida por oferecer um chá da tarde luxuoso, está permitindo que seus clientes tirem selfies e interajam diretamente com filhotes de leão. Tudo por cerca de £124, algo em torno de R$ 860.
A "experiência exótica", como o restaurante promove, inclui abraços em leõezinhos, além da possibilidade de acariciar outros animais selvagens como alpacas, veados, tartarugas e lhamas, tudo isso em meio a sobremesas sofisticadas e uma ambientação instagramável.

Enquanto alguns clientes se encantam com a chance de viver esse “momento de safari com ar-condicionado”, ativistas de direitos animais e autoridades reagiram com severas críticas.
A polêmica ganhou tanta força que o Departamento Provincial de Silvicultura e Pastagens de Shanxi iniciou uma investigação formal.
Foi alegado que o contato direto entre humanos e animais selvagens é proibido, mesmo quando o estabelecimento possui licença para manter os animais, o que é o caso da Wanhui Tower.
Segundo informações do The Sun, a declaração do restaurante surpreendeu pelo tom desafiador:
“Operamos como zoológicos — por que os leões não podem ser usados comercialmente?”
Essa resposta acendeu ainda mais os ânimos.
Jason Baker, vice-presidente sênior da PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais), classificou a prática como uma forma explícita de exploração.
“Arrancar filhotes de leão de suas mães para que clientes possam pegá-los durante o chá da tarde é exploração, não entretenimento. Esses animais são seres vivos e sensíveis, não brinquedos”, disse ele.
Peter Li, especialista da Humane World for Animals, também se posicionou.
“Mesmo um filhote de leão pode atacar e ferir um humano. Tratar animais selvagens como objetos de cena é moralmente inaceitável e perigosamente irresponsável.”
A moda de "cafés com animais exóticos"
Infelizmente, o caso da Wanhui Tower não é isolado. Nos últimos anos, têm surgido diversos estabelecimentos na Ásia oferecendo experiências com animais selvagens como atrativo turístico.
Na Tailândia, um “café dos leões” chegou a ser fechado após a prisão dos donos por administrarem um esquema ilegal de fotos com filhotes.
Já na China, outro hotel foi criticado por oferecer o “despertar com pandas vermelhos”, permitindo que os animais circulassem pelos quartos com os hóspedes.

Essas ações levantam um debate na internet sobre a linha tênue entre entretenimento e crueldade.
Filhotes de leão enfrentam grandes desafios na natureza
Enquanto alguns veem os filhotes de leão como “fofos” acessórios para redes sociais, a realidade desses animais na natureza é cruel e cheia de obstáculos.
Segundo o instituto Dulini Anabezi, na África, menos de 50% dos filhotes de leão sobrevivem até os dois anos de idade.
Eles nascem cegos, frágeis e extremamente dependentes das mães. A ameaça de predação por hienas, leopardos e até mesmo outros leões, especialmente machos dominantes que matam filhotes para reiniciar o ciclo reprodutivo, é constante.
Esse infanticídio, comum entre leões selvagens, chega a dizimar até 25% dos filhotes em determinadas regiões.
Fora isso, há fome, doenças e a própria competição dentro do grupo. Os filhotes, por serem os últimos a comer após uma caçada, frequentemente não recebem alimento suficiente, especialmente em épocas de seca.
Doenças, como infecções e parasitas, também são grandes vilões, já que seus sistemas imunológicos ainda estão em desenvolvimento.
O processo de aprendizagem da caça, essencial para a sobrevivência na vida adulta, exige tempo e interação com o grupo. Brincadeiras entre irmãos, perseguições simuladas e até embates ajudam a desenvolver essas habilidades.
Quando privados desse ambiente, como no caso de filhotes explorados comercialmente, essa etapa vital é simplesmente anulada.
O problema vai além da selfie
A ilusão de que um filhote de leão domesticado está “bem” é perigosa. Animais selvagens, mesmo em idade jovem, não foram feitos para ambientes humanos.
Ao serem separados das mães, expostos ao toque constante, flashes de câmeras e ambientes artificiais, sofrem estresse crônico e traumas que não são visíveis nas imagens compartilhadas online.
Além disso, há uma consequência grave para a conservação: práticas como essa alimentam a demanda por criadouros ilegais e pelo comércio de vida selvagem.
A cada selfie compartilhada, mais um argumento é dado para que criadores continuem separando filhotes de suas mães e os tratando como “conteúdo”.
O caminho precisa ser o da empatia
É fundamental reforçar que animais selvagens não existem para nos entreter, mas sim para viver em seus habitats, seguindo seus comportamentos naturais.
Experiências com vida selvagem só deveriam ocorrer de forma ética e sob supervisão científica ou conservacionista, como em reservas protegidas e observações à distância.
Enquanto o Wanhui Tower tenta defender seu “luxo selvagem”, cresce a consciência de que esse tipo de prática é, na verdade, o oposto de sofisticação: é um retrocesso.
Na dúvida, se você quer ajudar os leões (ou qualquer animal selvagem) busque apoiar projetos de conservação, adotar práticas sustentáveis de turismo e pensar duas vezes antes de financiar negócios que lucram com a exploração da vida.
Larissa é jornalista e escreve para o Amo Meu Pet desde 2023. Mora no Rio Grande do Sul, tem hobbies intermináveis e acha que todos os animais são fofos e abraçáveis. Ela se formou em Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e é “mãe” de duas gatas.