Conheça o Boquinha, pinscher resgatado de canil clandestino que teve final feliz graças a ajuda de dentista de animais

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em Proteção Animal

Em novembro de 2024, uma operação em Curitiba, no bairro Tatuquara, revelou um cenário de terror.

Mais de 30 cães das raças spitz alemão, yorkshire e pinscher estavam vivendo em gaiolas sujas, cercados de fezes e urina, sem luz do sol, comida adequada ou água limpa.

Filhotes com menos de 25 dias já tinham sido separados das mães. Muitos estavam à beira da morte.

No meio desse caos, um pinscher frágil, que recebeu o nome de Boquinha, chamou a atenção da equipe de resgate. Ele estava assustado, magro e com a boquinha completamente destruída.

O resgate que chocou Curitiba

A ação foi coordenada pelo Delegado-Chefe da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente, Guilherme Dias, em parceria com a ONG Grupo Força Animal. A responsável pelo local foi presa em flagrante por maus-tratos.

“É incrível como a criação clandestina de animais, tratados como mercadoria, quase sempre se confunde com maus-tratos”, escreveu o delegado em um post, indignado. “É assim que cães baratinhos e de raça vendidos na internet são tratados.”

No dia seguinte, a ONG publicou: “Todos estão doentes. Alguns bem graves.”

Todos os cães foram internados e passaram por uma força-tarefa veterinária, incluindo uma especialista em odontologia animal: a Dra. Helena Baggio.

Quando a veterinária disse “Meu Deus”

Foi na clínica da Dra. Helena que Boquinha teve sua primeira chance de recomeçar. Mas o que ela encontrou foi assustador. A mandíbula do cão simplesmente não existia mais.

“É a boca mais feia que eu já vi. Em 10 anos de odontologia, nunca vi algo assim”, desabafou ela, em um vídeo no Instagram.

Boquinha estava com fraturas na boca, dentes soltos, infecções graves e uma dor difícil de imaginar.

A cirurgia foi agressiva. Foram necessárias muitas extrações, limpeza profunda e cuidados pós-operatórios intensos. E, para surpresa de todos, ele voltou a comer ração normalmente pouco tempo depois.

Final feliz

Mais do que saúde, Boquinha também ganhou amor. Ele foi adotado por uma família que o tratou como ele sempre mereceu.

“Dá um ruim de ver as imagens do antes”, comentou Roberta, uma das tutoras, “mas é uma alegria saber que hoje ele é outro cachorrinho. Ele é muito amado e muuuuito mimado, sim. Vai ter vida de rei até o último dia.”

Hoje, oito meses depois da cirurgia, Boquinha está irreconhecível. Ganhou peso, confiança e uma família que o ama como ele merece.

Quando o barato sai cruel: o que é um canil clandestino?

Canis clandestinos são aqueles que operam sem registro, sem fiscalização e, muitas vezes, sem qualquer noção de ética ou empatia. O foco é apenas o lucro.

  • Não há controle genético,
  • Não há cuidados veterinários,
  • Não há descanso para as fêmeas,
  • Não há ambiente limpo ou seguro.

Os animais vivem em gaiolas, são cruzados indiscriminadamente e vendidos a preços baixos pela internet, geralmente sem qualquer documentação ou responsabilidade pós-venda.

Cães vendidos a preços muito baixos online quase sempre vêm de lugares como o que Boquinha foi resgatado. É uma ilusão pensar que está fazendo um bom negócio.

Além do sofrimento dos animais, o barato pode sair caro também para o tutor:

  • Doenças genéticas não diagnosticadas.
  • Problemas de comportamento por falta de socialização.
  • Raça fora dos padrões.
  • Despesas médicas que ultrapassam qualquer “desconto”.

O que diz a lei?

Maus-tratos a animais é crime e, segundo o § 1º-A do Art. 32 da Lei nº 9.605, quando se tratar de cão ou gato, a pena é de dois a cinco anos de prisão, multa e proibição de guarda.

No caso de Curitiba, a responsável foi presa em flagrante. Mas, infelizmente, muitos canis ilegais continuam operando, principalmente online, com anúncios “atrativos” e promessas falsas.

Criador ético: o oposto disso tudo

Do outro lado da história estão os criadores responsáveis. Esses, profissionais apaixonados por uma raça, registrados em Kennel Clubs, que investem pesado em estrutura, genética e bem-estar animal.

Segundo a CBKC (Confederação Brasileira de Cinofilia) e o AKC (American Kennel Club), os sinais de um criador ético são:

Como identificar um criador de confiança?

  • Você pode visitar o local, ver os pais dos filhotes e conhecer a rotina dos cães.
  • Os animais são bem alimentados, sociáveis e vivem em ambiente limpo e arejado.
  • O criador é transparente sobre doenças genéticas, histórico da linhagem e cuidados específicos.
  • Os filhotes são entregues somente após os 60 dias, e sempre com contrato e pedigree.
  • Você recebe documentação completa e tem acesso ao criador mesmo depois da compra.

Em vez de “comprar um cachorro”, você está pagando pelo trabalho do criador, pelo acompanhamento veterinário, pelas vacinas, pelo cuidado com a mãe e pelo controle da reprodução.

Se você está pensando em adotar ou comprar um cão, pergunte-se:

  • De onde vem esse filhote?
  • Posso visitar o local?
  • Tem contrato? Tem documentação?
  • O criador me responde com carinho ou só quer fechar a venda?

E, se puder, dê uma chance para os ‘Boquinhas’ do mundo.

Larissa é jornalista e escreve para o Amo Meu Pet desde 2023. Mora no Rio Grande do Sul, tem hobbies intermináveis e acha que todos os animais são fofos e abraçáveis. Ela se formou em Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e é “mãe” de duas gatas.