Vítima de 'criação de quintal ruim' bulldogue supera desnutrição severa e ganha um lar

Um bulldog que mal conseguia andar devido a problemas de saúde tornou-se um símbolo de resiliência em Sacramento, Califórnia (EUA).

Conhecido como Hamlet, o cão foi resgatado de um cenário descrito como "criação de quintal muito ruim". Ele apresentava orelhas cortadas de forma inadequada, patas deformadas e fraqueza extrema.

Após um intenso processo de reabilitação que tratou sua desnutrição severa e problemas digestivos, Hamlet foi oficialmente adotado.

Ele agora faz parte da família Franco, conhecida por seu trabalho com resgates de animais, juntando se a outros dois cães e quatro coelhos.

A jornada de Hamlet foi documentada em um vídeo compartilhado com o portal The Dodo. A narrativa começa com uma observação contundente.

"Produtos danificados se tornam os cachorros mais perfeitos". Esta frase define a transformação de Hamlet. Ele passou de uma vítima da indústria de criação negligente para um membro amado de uma família.

O resgate e o diagnóstico

Hamlet foi inicialmente salvo pela organização de resgate @piggiebully. As primeiras imagens do cão revelam um estado físico alarmante. Seus problemas eram visíveis e múltiplos.

As orelhas de Hamlet foram cortadas de maneira "muito malfeita e desigual". Este procedimento, muitas vezes realizado por razões estéticas em criadouros ilegais, pode causar dor crônica e infecções quando feito sem cuidados veterinários.

Sua estrutura corporal também estava comprometida. As patas dianteiras de Hamlet viravam para fora, um possível indicador de problemas de desenvolvimento ósseo.

Esta condição é frequentemente associada à má nutrição ou a práticas de reprodução irresponsáveis que não selecionam geneticamente cães saudáveis.

O problema mais urgente, no entanto, era sua fraqueza. Hamlet estava tão debilitado que "mal conseguia andar".

Os protetores precisavam usar um carrinho de transporte para movê-lo durante os passeios. Sua condição foi descrita como "de partir o coração" por aqueles que o encontraram.

Apesar de seu estado físico precário, Hamlet exibia uma atitude notável. Mesmo com dificuldades, ele se mostrava "tão alegre, tão feliz" durante uma visita a um parque.

Sua disposição para brincar contrastava fortemente com suas limitações físicas. Os cuidadores notaram que ele "tinha a melhor atitude do mundo".

A reabilitação no lar temporário

Após o resgate inicial, Hamlet foi colocado em um lar temporário com Caty e Eddie.

O casal relatou ao The Dodo que a conexão foi instantânea. "Nós nos apaixonamos por ele imediatamente", afirmaram.

A prioridade número um era a recuperação de peso de Hamlet. Ele estava severamente desnutrido. A equipe de resgate e os pais temporários implementaram um "plano de realimentação bem cuidadoso".

Este processo é delicado. A reintrodução rápida de alimentos a um corpo desnutrido pode causar a síndrome de realimentação, uma complicação metabólica que pode ser fatal.

Portanto, a dieta de Hamlet era controlada. Ele recebia pequenas porções de comida de alta qualidade em intervalos frequentes.

O objetivo era permitir que seu sistema digestivo se reajustasse e começasse a absorver nutrientes de forma segura. Cada grama que ele ganhava era celebrada como um passo crucial em sua recuperação.

Durante este período, um novo desafio surgiu. Conforme seu corpo se curava, Hamlet começou a sofrer de problemas de estômago, especificamente gases intensos.

Os novos tutores descreveram a situação com um toque de humor, chamando os gases de "tóxicos".

Embora problemas digestivos sejam comuns em bulldogs, a condição de Hamlet era exacerbada por sua recuperação.

Seu estômago estava "se recuperando e provavelmente se acostumando a comer comida de verdade", talvez pela primeira vez em sua vida. O corpo dele estava aprendendo a processar nutrição adequada.

A adoção e a nova vida

Os esforços de Caty e Eddie produziram resultados visíveis. O vídeo documenta a melhora de Hamlet. O cão que antes precisava de um carrinho começou a andar com mais firmeza. Seu peso aumentou e sua energia vital retornou.

"Ele está muito melhor agora", confirmou o tutor.

Com a saúde estabilizada, Hamlet estava pronto para seu capítulo final. Cerca de um mês após ser acolhido, ele encontrou seu lar permanente. A família Franco, de Sacramento, oficializou a adoção.

A família Franco não é estranha ao mundo do resgate animal. Conhecidos online como @francopets, eles já dividiam sua casa com dois outros cães e quatro coelhos.

Além dos residentes permanentes, a família atua ativamente no sistema de lares temporários, recebendo animais necessitados.

A integração de Hamlet neste novo ambiente representa a conclusão de sua jornada. O "produto danificado" encontrou um lugar onde suas imperfeições são parte de sua história, mas não definem seu futuro.

As cenas finais mostram Hamlet relaxado em um sofá, coberto por um cobertor, e brincando ativamente com seu novo irmão canino.

A história de Hamlet destaca os perigos da "criação de quintal". Esta prática, focada no lucro em detrimento do bem estar animal, produz cães com problemas de saúde crônicos e traumas.

O resgate de Hamlet pela @piggiebully, sua reabilitação por Caty e Eddie e sua adoção pela família Franco demonstram o esforço comunitário necessário para reverter esses danos.

Confira:

O QUE É CRIAÇÃO DE FUNDO DE QUINTAL

De acordo com a Jusbrasil, a "criação de fundo de quintal" é o nome popular dado aos criadouros clandestinos de animais.

Esta prática é descrita como um "flagrante exemplo de crueldade" e uma forma de exploração animal motivada principalmente pela questão econômica, onde os animais são vistos como uma fonte de lucro e tratados como mercadorias.

Segundo a Jusbrasil, esses criadouros funcionam da seguinte maneira:

• Exploração das Fêmeas: cadelas de raças populares, chamadas de "matrizes", são forçadas a ter ninhadas repetidamente a cada cio (em média, a cada seis meses). Isso resulta em fragilização da imunidade e exaustão, levando-as à morte em três ou quatro anos.
• Condições Insalubres: os animais são mantidos em ambientes precários, muitas vezes trancafiados em gaiolas minúsculas, facilitando a proliferação de doenças infectocontagiosas e parasitas.
• Venda Prematura: os filhotes são "arrancados das mães com apenas quatro semanas" para serem vendidos o mais rápido possível.
• Riscos aos Compradores: no momento da compra, os filhotes frequentemente já possuem doenças incubadas (como parvovirose e cinomose), que podem levar à morte. Além disso, os compradores podem ser enganados sobre a pureza da raça ("recebendo gato por lebre") e podem até contrair zoonoses.

A Jusbrasil aponta que quem compra animais desses locais, atraído pelo preço baixo, pode estar "fomentando esta prática cruel".