Cadela de rua desaparece — dias depois, reaparece coberta de tinta colorida
Por Ana Carolina Câmara em Cães
Chantal é uma cachorrinha doce que vive nas ruas de Patillas, em Porto Rico. Sozinha, mas nunca esquecida, ela recebe todos os dias água e comida das mãos generosas de Yesenia Pacheco Morales, protetora dos animais.
Yesenia é engajada na causa animal e, mesmo sem condições de adotar todos os cães em situação de vulnerabilidade, faz o possível para levar conforto e esperança a cada um deles.
Todos os dias, sem falhar - faça chuva ou sol - ela percorre a mesma rota, distribuindo alimento, carinho e atenção aos vira-latinhas que cruzam seu caminho.
Para muitos desses animais, Yesenia é o único gesto de amor que conhecem, e para Chantal, é o motivo de ainda acreditar na bondade humana.
Só que em setembro, algo inesperado aconteceu e chamou a atenção de Yesenia. A pequena Chantal, que nunca perdia uma refeição, não apareceu no local de costume.
Preocupada, Yesenia sentiu que algo estava errado. A rotina diária que unia as duas havia sido quebrada, e o silêncio daquele dia trouxe apreensão.
Yesenia voltou para casa com o coração apertado, tomada pela preocupação, mas ainda com esperança de que no dia seguinte veria Chantal novamente, com seus olhinhos brilhando de alegria ao reconhecê-la.
Só que, infelizmente, no dia seguinte, nada. No outro também, não. Os dias foram se passando, e Chantal continuava desaparecida, deixando Yesenia cada vez mais aflita e sem respostas.
O que será que aconteceu com a cachorrinha?
Foi então que, depois de muitos dias de angústia, Yesenia finalmente descobriu o que havia acontecido com Chantal.
Enquanto percorria a vizinhança, avistou a cachorrinha encolhida, tremendo de medo e coberta de tinta. A cena partiu seu coração.

Chantal havia sido vítima de uma crueldade inexplicável. Alguém havia despejado tinta sobre seu corpo, manchando não só seu pelo, mas também a confiança que ela havia construído nos humanos. Assustada, mal se movia, e seus olhos expressavam todo o trauma do que havia vivido.
“Vê-la coberta de tinta foi uma mistura de emoções”, disse Yesenia ao The Dodo. “Uma tristeza imensa, raiva, decepção e desespero ao vê-la coberta de tinta. Comecei a chorar, tinha tantas perguntas.”
Com o coração partido, Yesenia recolheu a cachorrinha e a levou até um professor de artes, na esperança de descobrir que tipo de tinta havia sido usada.

Assim que analisou o produto, ele confirmou o que ela já temia: a tinta não era própria para uso em animais nem em cabelos humanos.
Na verdade, tratava-se de um produto tóxico e altamente prejudicial, capaz de causar sérios danos à pele e à saúde de Chantal.
Abalada, Yesenia usou suas redes sociais para desabafar:
“Esse ato constitui uma agressão direta contra um ser vivo vulnerável. É importante reforçar que pintar um cachorro com produtos químicos não é arte nem diversão, é maus-tratos. E o mais grave: trata-se de uma cachorrinha de rua, dócil e submissa, que já enfrentava fome, indiferença e abandono.”
Por causa da tinta, Chantal desenvolveu uma forte reação alérgica na pele. Segundo Yesenia, “a pele dela ficou escamosa, avermelhada e coçando intensamente”, um sinal claro dos efeitos tóxicos do produto.

Um bom banho foi dado, mas, mesmo assim, a tinta não saiu por completo. As manchas coloridas continuavam visíveis em várias partes do corpo.
Diante disso, foi preciso realizar uma tosa completa, na tentativa de remover o máximo possível do produto químico. Ainda assim, parte da coloração permaneceu, mostrando o quanto o produto havia penetrado nos pelos e agredido a pele de Chantal.
O processo exigiu tempo, paciência e muito cuidado, mas, aos poucos, ela começou a recuperar o conforto e a tranquilidade, sinais de que a fase mais dolorosa finalmente estava ficando para trás.
“Ela está tomando antibióticos e anti-histamínicos para prevenir qualquer infecção, além de aliviar a coceira e a inflamação”, disse Yesenia.
Os voluntários não tiveram coragem de devolver a cachorrinha às ruas depois de tudo o que ela havia passado. Chantal ainda estava frágil, assustada e precisava de tempo para se recuperar completamente.
Foi então que uma mulher solidária se ofereceu para acolhê-la em lar temporário, garantindo a ela um ambiente seguro, limpo e cheio de carinho.

Ali, Chantal pôde descansar, receber medicação, alimentação adequada e, principalmente, sentir novamente o calor de um lar, algo que talvez nunca tivesse experimentado antes.
Chantal teve o seu recomeço
Conforme os dias passavam, Chantal começou a mostrar sinais de melhora. Sua pele, antes irritada e sensível, foi cicatrizando aos poucos, e o brilho voltou a aparecer em seus olhos.
E o melhor de tudo? Em outubro, uma família da Pensilvânia, nos Estados Unidos, ao conhecer a história de Chantal, se comoveu e decidiu adotá-la.
Eles ficaram encantados com sua força e doçura, e quiseram lhe oferecer aquilo que ela mais merecia: um lar cheio de amor, segurança e novas lembranças felizes.
“Desde o primeiro dia, eles viram a publicação sobre Chantal e decidiram que queriam adotá-la”, disse Yesenia.

E não para por aí: Chantal não será a única a ganhar um novo começo. Outro cachorrinho que vive no mesmo lar temporário também foi adotado pela mesma família.
Assim, quando ela embarcar rumo à Pensilvânia, não irá sozinha. Terá ao seu lado um amigo que compartilhou sua fase mais difícil e agora dividirá com ela o recomeço em terras estrangeiras.
Juntos, eles deixarão para trás o abandono e a dor, iniciando uma vida repleta de afeto, segurança e novas descobertas. Um verdadeiro final feliz para dois corações que só precisavam de amor.
No Brasil, maus-tratos são crime
No Brasil, maus-tratos contra animais é considerado crime, conforme previsto na Lei nº 9.605/1998, conhecida como Lei de Crimes Ambientais.
Essa legislação estabelece punições para quem praticar atos de abuso, abandono, violência física, privação de alimento, envenenamento, mutilação ou qualquer outra forma de sofrimento desnecessário contra animais domésticos, domesticados, silvestres ou exóticos.
Em 2020, a lei foi endurecida com a aprovação da Lei nº 14.064/2020, chamada de Lei Sansão — em homenagem a um cão que teve as patas decepadas em Minas Gerais. Desde então, os crimes de maus-tratos contra cães e gatos passaram a ter pena de dois a cinco anos de prisão, além de multa e proibição da guarda de animais.
O objetivo dessas leis é proteger o bem-estar animal e conscientizar a sociedade de que os animais sentem dor, medo e sofrimento, assim como os humanos.
Denunciar casos de maus-tratos é um dever de todos, e as denúncias podem ser feitas à polícia civil, ao Ministério Público ou a órgãos de proteção animal.
Redatora e apresentadora do Canal Amo Meu Pet.
Com formação em Design de Produtos e especialização em Design de Interiores pela Universidade de Passo Fundo, a Ana encontrou sua verdadeira paixão ao unir criatividade, comunicação e o amor pelos animais.
Apaixonada por contar histórias que tocam o coração, ela estudou Escrita Criativa com o escritor Samer Agi e participa do programa JournalismAI Discovery, organizado pela Escola de Economia e Ciências Políticas de Londres e a Iniciativa de Notícias do Google, buscando se aprofundar no universo digital.
Hoje, dedica-se a produção de conteúdos que informam, emocionam, conscientizam e arrancam sorrisos.








